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Era velho, simpático, falador e trocista. O Zé trabalhou num escritório de uma empresa 16 anos, entre 50/66, ano em que foi inaugurada a ponte Salazar, hoje com outro nome.
Nessa empresa, trabalhava por conta de uma segurada o enfermeiro a quem todos chamavam “Marmelada”, mas cujo nome era Silva. Portanto já estão a imaginar que o tratamento era assim: Cara a cara, Sr. Silva para a direita, Sr. Silva para a esquerda e pela porta baixa; ó “Marmelada”, fazendo com que afinasse 30 vezes por dia. A sua arma e como vingança, era colocar alcunhas a todos que lhe chamavam “Marmelada”.
Na conformidade, não havia ninguém na empresa que não tivesse alcunha. Era “Olho de Boi, Borda de Água, Cartucheira, Esparguete, Pica Bois, Chanfrado, etc., etc., etc.”
O seu vencimento era fraquito, mas lá ia dando para viver. Quando fazia anos, normalmente de minha iniciativa fazíamos uma pedinchinha e arranjávamos sempre uns “tustos” para lhe comprar um casaco, camisa, gravata, que com pompa e circunstância levávamos a sua casa, onde vivia só, pois não tinha companheira.
O petisco fazia-o ele no seu gabinete de trabalho e era dia de festa quando a malta o convidava para almoçar.
Um dia, num estabelecimento de vende tudo (os únicos chineses que havia por cá, só vendiam gravatas pelas ruas enfiadas num pau) comprou um fogareiro a petróleo, daqueles que já fiz referencia num outro conto denominado “O Hipólito”, com intuito de fazer a comida mais rapidamente.
Chegou ao trabalho feliz, contente e demonstrava a sua satisfação pela compra que tinha feito.
Acontece que o diabo (Zé) estava sempre à coca, na esperança de aproveitar um deslize do “Marmelada” para lhe fazer uma partida. Mas naquele dia o homem, ou por defesa ou porque notou também a minha satisfação pela sua compra, resolveu quando saía fechar a porta à chave e levar a chave no bolso. As suas saídas eram de pouca duração e limitavam-se as umas voltitas pelas oficinas. Mas numa das suas curtas saídas à casa de banho, o Zé, de corrida veloz, foi-se ao “Hipólito” e esvaziou o petróleo substituindo-o por água.
Quando o Marmelada se preparava para fazer ou aquecer o almoço, por mais que desse à bomba, o “Hipólito” não trabalhava. Até que, já farto de aquecer a cabeça do fogão começou com os seus impropérios contra o tendeiro que lhe vendeu a pequena máquina. O encarregado da oficina de serralharia, desconfiado, visto que conhecia o Zé e do que ele era capaz, abriu a válvula, cheirou e deu o remate final: Sr. Silva, o que está aqui dentro é água.
Como eu parava sempre por perto para me deliciar com as malandrices, o “Marmelada” olhou para mim e desabafou em voz alta.
Filho da puta de “Esparguete” (era esta a alcunha com que ele me tinha baptizado), se um dia te pego nem sabes o que te faço.
A gargalhada que se seguia acalmava o “engatado” e a partir daí o Zé estava pronto para outra.
Noutro dia pela manhã, e após o “Marmelada” ter feito uma cafeteira de café com que aquecia o seu estômago em dias de frio, o Zé, apanhando-o distraído encheu-lhe a cafeteira de serradura. Quando se preparava para beber a “mistela”, reconhecia que mais uma vez tinha caído na esparrela.
Isto foi somente uma pequena amostra das partidas que lhe fiz. Foram tantas, tantas e tão variadas, que de algumas agora até sinto remorsos.
Todavia, garanto-vos não havia ninguém que fosse mais seu amigo do que eu, mas quando eu estava por perto, o “Marmelada” sentia-se estranho, era como se visse o diabo em figura de gente.
Nessa empresa, trabalhava por conta de uma segurada o enfermeiro a quem todos chamavam “Marmelada”, mas cujo nome era Silva. Portanto já estão a imaginar que o tratamento era assim: Cara a cara, Sr. Silva para a direita, Sr. Silva para a esquerda e pela porta baixa; ó “Marmelada”, fazendo com que afinasse 30 vezes por dia. A sua arma e como vingança, era colocar alcunhas a todos que lhe chamavam “Marmelada”.
Na conformidade, não havia ninguém na empresa que não tivesse alcunha. Era “Olho de Boi, Borda de Água, Cartucheira, Esparguete, Pica Bois, Chanfrado, etc., etc., etc.”
O seu vencimento era fraquito, mas lá ia dando para viver. Quando fazia anos, normalmente de minha iniciativa fazíamos uma pedinchinha e arranjávamos sempre uns “tustos” para lhe comprar um casaco, camisa, gravata, que com pompa e circunstância levávamos a sua casa, onde vivia só, pois não tinha companheira.
O petisco fazia-o ele no seu gabinete de trabalho e era dia de festa quando a malta o convidava para almoçar.
Um dia, num estabelecimento de vende tudo (os únicos chineses que havia por cá, só vendiam gravatas pelas ruas enfiadas num pau) comprou um fogareiro a petróleo, daqueles que já fiz referencia num outro conto denominado “O Hipólito”, com intuito de fazer a comida mais rapidamente.
Chegou ao trabalho feliz, contente e demonstrava a sua satisfação pela compra que tinha feito.
Acontece que o diabo (Zé) estava sempre à coca, na esperança de aproveitar um deslize do “Marmelada” para lhe fazer uma partida. Mas naquele dia o homem, ou por defesa ou porque notou também a minha satisfação pela sua compra, resolveu quando saía fechar a porta à chave e levar a chave no bolso. As suas saídas eram de pouca duração e limitavam-se as umas voltitas pelas oficinas. Mas numa das suas curtas saídas à casa de banho, o Zé, de corrida veloz, foi-se ao “Hipólito” e esvaziou o petróleo substituindo-o por água.
Quando o Marmelada se preparava para fazer ou aquecer o almoço, por mais que desse à bomba, o “Hipólito” não trabalhava. Até que, já farto de aquecer a cabeça do fogão começou com os seus impropérios contra o tendeiro que lhe vendeu a pequena máquina. O encarregado da oficina de serralharia, desconfiado, visto que conhecia o Zé e do que ele era capaz, abriu a válvula, cheirou e deu o remate final: Sr. Silva, o que está aqui dentro é água.
Como eu parava sempre por perto para me deliciar com as malandrices, o “Marmelada” olhou para mim e desabafou em voz alta.
Filho da puta de “Esparguete” (era esta a alcunha com que ele me tinha baptizado), se um dia te pego nem sabes o que te faço.
A gargalhada que se seguia acalmava o “engatado” e a partir daí o Zé estava pronto para outra.
Noutro dia pela manhã, e após o “Marmelada” ter feito uma cafeteira de café com que aquecia o seu estômago em dias de frio, o Zé, apanhando-o distraído encheu-lhe a cafeteira de serradura. Quando se preparava para beber a “mistela”, reconhecia que mais uma vez tinha caído na esparrela.
Isto foi somente uma pequena amostra das partidas que lhe fiz. Foram tantas, tantas e tão variadas, que de algumas agora até sinto remorsos.
Todavia, garanto-vos não havia ninguém que fosse mais seu amigo do que eu, mas quando eu estava por perto, o “Marmelada” sentia-se estranho, era como se visse o diabo em figura de gente.
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