Como estamos na época da caça e esta historia se passou nesta altura do ano, resolvi vir agora a terreiro, contando-a.
O Costa (não o Costa do Castelo, esse é outro e representado por António Silva, o melhor cómico português de todos os tempos), tinha um irmão, também Costa como ele, mas a quem todos chamavam “vivo”. Um caçava de espingarda, o outro era caçador de pau, sendo ambos uns falhados naquele desporto(?), já que a um faltava a pontaria para acertar nos animais em movimento, enquanto ao “vivo” a destreza para manejar o pau. Todavia eram pertinazes e mantinham a chama acesa e a gana de ir ao campo, calcorrear quilómetros e quilómetros para ver se apanhavam qualquer coisa.
De cada vez que partiam à procura do lazer, apanhavam, isso sim, uma caminhada imensa, que os deixava derreados por três dias. Ouvi-os lamentar-se muito vez, que não apanhavam caça, porque era escassa e não tinham cães à altura para dar a preciosa colaboração de que tanto necessitavam. Mas como os outros companheiros apanhavam sempre, afirmavam que os seus cães praticamente é que lhes metiam os coelhos e as lebres em frente da caçadeira.
Isto era assim quase todos os anos e portanto já toda a gente no lugar se ria dos desaires dos esforçados daquela arte.
Um deles era casado e o outro “amancebado”, que no fundo não interessa mesmo nada para a história.
A Rosa, mulher do casado, às vezes não batia bem a bola e deixava-a cair, em vez de encestar, usando uns óculos com uma lentes fortíssimas, fruto de uma miopia em estado muito adiantada e ao falar batia com a língua nos dentes superiores da frente. Não trabalhava, andando no laréu de porta em porta a coscuvilhar com a vizinhança, sabendo por isso a vida de todos no lugar.
Certa quinta-feira, o Costa e o seu mano arrumaram-se na camioneta de caixa aberta que os transportaria ao Alentejo, na companhia de mais dez ou quinze companheiros das caçadas. Como sempre, toda a gente menos os Costas apanhou perdizes, coelhos, lebres, e na hora do regresso a casa houve distribuição, cabendo a cada um dos irmãos 2 coelhos e 1 perdiz.
A tristeza por não apanharem nada foi ultrapassada pela felicidade de levarem pendurados a tiracolo aquelas peças oferecidas, pois faziam vista como se fossem eles que as tivessem apanhado. Chegaram cedo, largaram-nas em casa e correram à taberna para, entre uns copos, uns murros na mesa e umas cuspidelas no baralho das cartas, poderem contar as suas façanhas no dia em que, bafejados pela sorte, teriam os dois apanhado aqueles seis infelizes animais (cada caçador, cada mentiroso).
A Rosa entrou em casa com um cartucho de papel pardo na mão, não sei bem se recheado de algum café comprado avulso, se alguma coisa pedinchada a alguma vizinha, vê os coelhos e a perdiz e correu apressada à tasca, para perguntar ao marido como seria o jantar daquele dia.
E talvez com a falta de vista e a precipitação de ir a correr, dá com a cara e consequentemente com o nariz na ombreira da porta, que não só lhe causou dor, como desencadeou a vontade de espirrar, expelindo muco pelo nariz.
Aprumou-se, com o lenço vai limpando o muco, enquanto os companheiros da jogatana, sorriam ao ver aquela cena grotesca. E pergunta ao marido.
Costa, os coelhos para esta noite é para fazer com ranho ou com massa?, respondendo o Costa precipitadamente que fizesse os coelhos com massa e a perdiz com ranho, mas para amanhã.
Rebenta gargalhada geral. No entanto, o que a Rosa pretendia perguntar era se os fazia com arroz.
Talvez aquele muco transformado em condimento fosse capaz de dar um paladar exótico à comida e num futuro viesse a fazer parte de algum livro de Pantagruel.
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O Costa (não o Costa do Castelo, esse é outro e representado por António Silva, o melhor cómico português de todos os tempos), tinha um irmão, também Costa como ele, mas a quem todos chamavam “vivo”. Um caçava de espingarda, o outro era caçador de pau, sendo ambos uns falhados naquele desporto(?), já que a um faltava a pontaria para acertar nos animais em movimento, enquanto ao “vivo” a destreza para manejar o pau. Todavia eram pertinazes e mantinham a chama acesa e a gana de ir ao campo, calcorrear quilómetros e quilómetros para ver se apanhavam qualquer coisa.
De cada vez que partiam à procura do lazer, apanhavam, isso sim, uma caminhada imensa, que os deixava derreados por três dias. Ouvi-os lamentar-se muito vez, que não apanhavam caça, porque era escassa e não tinham cães à altura para dar a preciosa colaboração de que tanto necessitavam. Mas como os outros companheiros apanhavam sempre, afirmavam que os seus cães praticamente é que lhes metiam os coelhos e as lebres em frente da caçadeira.
Isto era assim quase todos os anos e portanto já toda a gente no lugar se ria dos desaires dos esforçados daquela arte.
Um deles era casado e o outro “amancebado”, que no fundo não interessa mesmo nada para a história.
A Rosa, mulher do casado, às vezes não batia bem a bola e deixava-a cair, em vez de encestar, usando uns óculos com uma lentes fortíssimas, fruto de uma miopia em estado muito adiantada e ao falar batia com a língua nos dentes superiores da frente. Não trabalhava, andando no laréu de porta em porta a coscuvilhar com a vizinhança, sabendo por isso a vida de todos no lugar.
Certa quinta-feira, o Costa e o seu mano arrumaram-se na camioneta de caixa aberta que os transportaria ao Alentejo, na companhia de mais dez ou quinze companheiros das caçadas. Como sempre, toda a gente menos os Costas apanhou perdizes, coelhos, lebres, e na hora do regresso a casa houve distribuição, cabendo a cada um dos irmãos 2 coelhos e 1 perdiz.
A tristeza por não apanharem nada foi ultrapassada pela felicidade de levarem pendurados a tiracolo aquelas peças oferecidas, pois faziam vista como se fossem eles que as tivessem apanhado. Chegaram cedo, largaram-nas em casa e correram à taberna para, entre uns copos, uns murros na mesa e umas cuspidelas no baralho das cartas, poderem contar as suas façanhas no dia em que, bafejados pela sorte, teriam os dois apanhado aqueles seis infelizes animais (cada caçador, cada mentiroso).
A Rosa entrou em casa com um cartucho de papel pardo na mão, não sei bem se recheado de algum café comprado avulso, se alguma coisa pedinchada a alguma vizinha, vê os coelhos e a perdiz e correu apressada à tasca, para perguntar ao marido como seria o jantar daquele dia.
E talvez com a falta de vista e a precipitação de ir a correr, dá com a cara e consequentemente com o nariz na ombreira da porta, que não só lhe causou dor, como desencadeou a vontade de espirrar, expelindo muco pelo nariz.
Aprumou-se, com o lenço vai limpando o muco, enquanto os companheiros da jogatana, sorriam ao ver aquela cena grotesca. E pergunta ao marido.
Costa, os coelhos para esta noite é para fazer com ranho ou com massa?, respondendo o Costa precipitadamente que fizesse os coelhos com massa e a perdiz com ranho, mas para amanhã.
Rebenta gargalhada geral. No entanto, o que a Rosa pretendia perguntar era se os fazia com arroz.
Talvez aquele muco transformado em condimento fosse capaz de dar um paladar exótico à comida e num futuro viesse a fazer parte de algum livro de Pantagruel.
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