26.4.10

PÉ DE BICO

Alentejo no seu esplendor. Searas de trigo por todo o lado, era o celeiro de Portugal. Hoje, os agrários preferem alugar as propriedades para couto de caça e tiram, segundo parece, sem nenhum trabalho resultados mais vantajosos.
Do Norte, a ligação ao Algarve estava assegurada por três estradas, uma direitinha a Castro Marim, outra passando por S. Brás de Alportel e a última terminando em Lagos.
Todas elas estão ainda em estado razoável, mas acompanhadas pela Auto-estrada e a que, passando por Ourique, termina na via do Infante, ou Albufeira.
O Zé circulava nas primeiras muitíssimas vezes e durante o inverno. Certa vez, quando a noite já tinha chegado, e ela aparecia por volta das dezoito horas, vindo de Vila Real de Santo António, passava por Ferreira do Alentejo e eram horas de jantar. As minhas companhias eram, nessa altura, adeptas de um clube de futebol que tinha jogado nesse Domingo à tarde no campo do Vila Real.
Perguntámos onde se poderia mastigar e indicaram-nos o restaurante–tasca “Pé de Bico”.
Não me perguntem porque tinha aquele nome, pois ainda hoje não sei, tal como não sei se ainda existe.
Entrámos, sentámo-nos e um rapazito, fazendo o papel de empregado de mesa, aproximou-se para sabermos o que queríamos.
A lista com a indicação do menu não era coisa daqueles tempos, portanto o mocito anunciou que o prato da casa era canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada.
Estão já a imaginar, quatro galfarros, cheios de “galga” para encher o estômago, mas finos no paladar.
Fomos unânimes em mandar vir a canja e a galinha e que os carapaus fritos fossem feitos de escabeche para o dia em que lá não passássemos.
O rapaz foi à cozinha e volta com a cara um pouco constrangida, esclarecendo que a comida era canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada. Retorquimos que tínhamos percebido perfeitamente e que não queríamos os carapaus.
Lá volta o rapaz à cozinha e então sai de lá um alentejano, que pelos vistos seria o dono do “Pé de Bico”, com a sua voz de sotaque bem acentuado, dirigiu-se à nossa mesa e anunciou mais ou menos nestes termos:
- Meus amigos, a comidinha é canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada.
- Meu caro senhor, já tínhamos percebido à primeira vez. Abdicamos dos carapaus, traga o restante e meta na conta também os carapaus, mesmo sem os termos comido.
O homem respira fundo e diz que a galinha é pouca e daí a necessidade dos carapaus, para fazer “papo”.
Pois bem, dissemos nós, traga tudo menos os carapaus e depois logo se vê.
Pois fiquem já a saber: ou comem os carapaus ou então não comem nada, disse já com a voz a indicar aproximação de trovoada.
Levantámo-nos, viemos embora e, ao passar pela ombreira da porta, dissemos bem alto:
- Guloso, querias era encher a nossa barriga de carapaus e a galinha comia-la tu.
- Pois venham cá, que tenho aqui uma moca e já ficam a saber quem comia a galinha, porque vocês ficam é com alguns galos a cantar na cabeça

Safamo-nos de boa. Só em casa matámos a fome…
.

13.4.10

ELECTRICIDADE

Foto retirada da Net
.
.
Todos nós já não podemos passar sem o botão que nos liga e desliga a luz. É rápido, não é económico, mas não podemos viver sem ela.
Passou a ser um bem necessário à nossa vida e é impossível abdicar da sua utilização. Ela está em toda a parte a realizar receitas para o “lobby” EDP e para manter a ERSE, que serve unicamente para legalizar a gula sempre desmedida dos “Mexias” que por lá têm passado, na qualidade de administradores.
Os lucros daquela empresa sobem anualmente para milhões e, com a conivência do Governo, também anualmente os senhores administradores daquela empresa recebem, além dos vencimentos que já são um escândalo nacional (comparativamente com a miséria deste pobre povo pagante), mais uns simples trocos que 80% da população portuguesa nunca ganhará em toda a sua vida de trabalho.
Sabemos que a energia eléctrica é paga somente pelos portugueses, quer seja ao nível doméstico, comercial ou industrial. Portanto, os objectivos da empresa são sempre os mesmos ao longo dos anos.
Há pois necessidade, tal como fazem as câmaras, de irem descobrindo a pouco e pouco onde podem facturar ao Zé Povinho mais qualquer coisa para engordar as contas dos senhores administradores. Porque de outra forma os objectivos podem não ser alcançados.
Pobre e demente Zé, que nunca aprendes, nem à tua custa! Reclamávamos do preço do aluguer do contador que vinha na factura mensal e os senhores “Mexias” fizeram-nos a vontade. Acabaram com ele e em sua substituição criaram a potência contratada e mais a taxa de exploração, que ultrapassa em muito o valor daquele.
Depois veio o caso único do “consumo estimado”, que é o pagamento antecipado do que presumivelmente gastaremos, tudo devidamente aprovado pelos ERSE.
Em 4 de Setembro de 2006, recebemos todos através e em conjunto com outros elementos da EDP, uma carta informando-nos que todos os consumidores em Portugal continental podiam escolher o seu fornecedor de energia eléctrica. Rejubilei com a notícia. Afinal, até hoje continuo a ser cliente da empresa que me vai roubando, dado não descortinar outra empresa concorrente.
Depois, em 16/6/2008, a ERSE, por proposta da Edp preparava-se para autorizar que os valores das dívidas incobráveis passassem a ser pagas por todos os clientes.
Mas a Edp tem dívidas incobráveis?! Então cobram antecipadamente por estimativas a luz, se faltamos ao pagamento cortam-na imediatamente e seríamos nós, Zé Povinho, a pagar as dívidas dos outros?
E a seguir, dado que pretendem colocar em nossa casa novos contadores que evitarão a deslocação de empregados para fazer a contagem (nesta altura já é só 2 vezes por ano), fizeram a proposta para ser os clientes a pagar a instalação e o preço do novo aparelho.
Senhor “Mexia” vá para o diabo que o carregue, tenha vergonha na cara e não repita que o prémio(?) que lhe é atribuído é merecido e que recorrerá para os tribunais se não lho derem.
Sei que considera o povo português uma quantidade de burros invejosos, que só têm inveja do dinheiro que você recebe. Pois, meu caro trabalhador(?), o povo português não tem inveja, tem é revolta pelo dinheiro que lhe furtam todos meses na factura para encher a vossa pança, enquanto nós, aqueles a quem considera burros, a quem esse dinheiro tanta falta faz, vivemos na miséria, angustiados para pôr na mesa o pão dos nossos filhos, enquanto vocês, senhores “Mexias”, à nossa custa arrotam pelo dinheiro que nos sacam!!!
Entre os objectivos de que se ufana, temos o despedimento de centenas e centenas de trabalhadores em idade útil de poder dar contributo à nação, fazendo aumentar a longa lista de reformados à força, com a consequente sangria do dinheiro da segurança social, sendo os serviços que aqueles prestavam entregues a empresas particulares cujos administradores, na maior parte dos casos, são os mesmos que por aí já passaram.
Irra, que é demais! A canga está a pesar-me. Cuidado, senhores “Mexias”. Não passem por detrás de mim, que podem apanhar dois coices.
.