24.4.08

Viagem a Sevilha



O Zé sempre gostou muito de pombinhas e esta, no Parque Maria Luiza em Sevilha, não resistindo aos meus encantos veio dar-me um beijinho.

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Namorei uma morena, uma bela rapariga de vinte e tantos anos, natural de Castelo Branco, mas a viver em Paço de Arcos desde os 6, para onde veio em companhia dos progenitores, que tinham acabado de arranjar trabalho naquela vila da linha do Estoril.
A moça era bonita (com aquela idade todas são), graciosa, trabalhadora e terminámos nem sei bem porquê. Qualquer coisa de arrufo de mal me quer, bem me quer, o certo é que me voltei para o outro lado, como quem acorda estremunhado e tem necessidade de dormir mais um bocado e não dá atenção ao que o rodeia.
No entanto, durante o nosso tempo de convívio fomos felizes, soubemos viver a vida à nossa maneira, como pudemos ou nos deixaram.
Por nos ter acontecido algumas situações de bom humor, não vou deixar desperdiçar a oportunidade de contar um caso ocorrido na Cidade de Sevilha, onde nos deslocamos para assistir à Feira de Abril.
As “maçarocas” andavam em baixo e portanto, a tempo e horas, resolvemos marcar a nossa viagem de forma a não deixar nada ao acaso e evitar qualquer surpresa desagradável. Afinal, pelos vistos foi deixa andar e fé em Deus.
O Zé tinha uma viatura 500 da marca Fiat, que fez a viagem numa média de 40/50 Km hora, muito bom para a época, já que as estradas, especialmente as espanholas, nalguns sítios eram só um buraco. Na altura e à falta de melhor, era uma “máquina”, na gíria dos entendidos, especialmente aqueles, que, como eu nunca tinham tido outro…
O calor era insuportável. Fizemos a visita nos últimos dias da Feira e esta encontrava-se no auge, as sevilhanas com os trajos regionais e festivos, montando os cavalos sentadas de lado, agarradas à cintura do cavaleiro também com o trajo a rigor, as “charretes” das casas senhoriais com os senhores das terras e suas “donas”, as flores nas orelhas, os empregados também vestidos a condizer e a conduzir as ditas, com destino ao picadeiro, com as ruas engalanadas de bolas brancas e vermelhas, as “casetas”, milhares de pequenas esplanadas particulares e poiso de descanso para uns pés mais doridos; depois de percorrer todas as ruas da Feira, estávamos exaustos.
Quando nos sentimos bem num lugar, o tempo passa rapidamente sem darmos por isso e foi o que nos aconteceu. Portanto, já noite alta desatámos a procurar local para pernoitar e a todas as portas que batemos não era possível satisfazerem os nossos desejos, até que, já desesperados, lá conseguimos um “Hostal” que nos acolhia por um preço igual a um hotel de 4 estrelas. Naquela altura não há que pensar; é pegar ou largar, mas iria desajustar todo o orçamento daquele passeio.
A entrada da unidade hoteleira dava para um pátio andaluz, sendo o seu recheio composto de muitas flores, duas cadeiras de verga, onde numa delas estava sentada uma mulher grande e gorda, que na minha imaginação admiti ser a dona. Não me enganei.
Foi-nos atribuído um quarto com cama de casal num terceiro andar, cuja subida era feita através de escada por dentro do referido pátio. Depois, lá em cima, tinha um corredor que servia todos os quartos de cada andar e portanto a patroa, cá debaixo praticamente controlava todo o movimento no “Hostal”, sem levantar o “assento” da cadeira de verga.
O quarto era modestíssimo, não tinha casa de banho, mas tinha cama, duas mesas de cabeceira, uma cadeira e um roupeiro que naquele tempo se chamava de guarda-vestidos, uma janela já carcomida do caruncho e um lavatório assente em suportes de ferro fundido com arabescos e as ligações às duas torneiras que pingavam, com tubos de chumbo a sair da parede.
A Lurdocas, era assim que eu chamava à minha companheira de amores e de viagem, necessitou de se lavar e, como não tinha outra maneira mais à mão, resolveu lavar os seus “baixios” no lavatório, usando para se colocar à altura do mesmo a cadeira existente no quarto.
Ainda lhe chamei a atenção que aquilo podia dar para o torto, mas não aceitando a minha observação, coloca água no lavatório (quente não havia), sobe a cadeira virada para o dito, volta-se, quer sentar-se mas o espaldar da cadeira era um pouco mais alto, impedindo uma boa execução do serviço.
Com jeito a mais, ou falta dele, assenta o “sim senhor” no lavatório com a mesma naturalidade e à vontade como se estivesse no bidé. Os suportes não aguentaram o seu peso, os tubos de chumbo dobraram, partiram, e o lavatório cai no chão fazendo um barulho medonho e a água, sem nada para a impedir, saía com força de 8/9 bares, ficando a Lurdocas estatelada no chão. Não se magoando, já que Deus à menina e ao borracho põe a mão por baixo, levanta-se imediatamente e coloca um dedo de cada mão nos buracos de onde saía água na tentativa de a fazer parar. Espera aí que já paras, aquilo foi uma lavagem tipo máquina de estação de serviço; as partes intimas onde já tinha passado o sabonete estavam cheia de espuma e a água em repuxo e alta pressão pela colocação dos dedos a impedir a sua saída tratou de fazer a lavagem definitiva e completa, faltando somente secador, para pentear e fazer risca ao lado. Estávamos os dois em pânico, abri a porta e lá de cima debruçado no balcão chamei a patroa, desenrolando-se esta conversação:
Senhora... Senhora...
Cunho, Cunho, já me desgraciaste, foste labar el culo no lababo. és el costumbre...
Deu-me vontade rir, porque me apercebi que pelo barulho que o acidente fez, ela soube logo do que se tratava, pois decerto a outros já teria acontecido a mesma coisa.
E o mais curioso é que nem se deu ao trabalho de ir lá acima, foi-se à torneira de segurança, fechou-a e o “Hostal” esteve sem água até ser reparado no outro dia, tendo a brincadeira custado ao Zé a quantia de 250$00 (muita massa), fazendo com que a visita à Feira tivesse terminado logo ali, não sem antes primeiro tirar umas fotografias com as pombinhas no parque Maria Luíza. Regressámos à capital portuguesa de imediato e a fazer refeição de sandes de atum durante toda a viagem, exceptuando uma pequena paragem em Badajoz para comprar uns caramelos da marca “Solana”, que eram iguais aos nossos da marca “Vaquinha” e que eu tinha o cuidado de oferecer a amigos que tivessem dentes postiços, pois adorava ver os gulosos atrapalhados a retirar com muita dificuldade aquela pasta agarrada à dentadura, ocasionando sempre umas valentes gargalhadas.

14.4.08

Passarinhos na Frigideira


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Naquele dia estes escaparam

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Tinha acabado a guerra civil de Espanha, que serviu para uma meça de forças e experiência em material beligerante para o início da 2ª Guerra Mundial. Ambas foram devastadoras, causando a morte a milhares e milhares de vidas humanas.
Eu tinha 7 anos e meu irmão 12. Brincávamos despreocupadamente felizes, como qualquer criança daquela idade, alheios aos tumultos do Mundo, às politiquices caseiras e enfim aos ódios entre as nações.
Como noutros contos já fiz referência, o meu pai possuía quintas e as nossas dificuldades não seriam tão grandes como a maioria dos portugueses, porquanto não havendo dinheiro, existiam os bens urbanos e rústicos que davam estatuto e eram sinal de bem-estar, aliado às terras que cultivadas enchiam a barriguinha.
De qualquer das maneiras, foram anos e anos difíceis, de incertezas, de intranquilidade que toda a gente passava.
Foi a época do carapau, da sardinha, do chicharro e do bacalhau, que comíamos 6 vezes por semana de 2ª a Sábado, e ao Domingo com muitas dificuldades lá nos “lambíamos” com um pouquito de carne.
É curioso, como os tempos mudam e o mais barato de ontem como por artes mágicas passa ao mais caro de hoje e vice-versa. Vejamos: sardinha e bacalhau era a comida que qualquer trabalhador com o vencimento mais curto levava como almoço para o trabalho. Note-se que não era luxo, era simplesmente o mais barato, ao contrário de agora, que são dos mais caros que se compram. Este exemplo serve perfeitamente também para a truta. Caríssima antigamente e agora ao preço da uva mijona.
Em poucas casas particulares existia rádio e para ouvi-la íamos até ao estabelecimento mais próximo, que normalmente era uma taberna, levávamos uma cadeira da nossa casa e sentávamo-nos cá fora a deliciar as campânulas auditivas com uns faditos ou outra coisa qualquer.
As brincadeiras eram todas do mais simples que havia, desde “Rei coxo, o eixo, a apanha, o arco e pouco mais”.
O meu irmão possuía uma infinidade de ratoeiras para apanhar passarada e eu andava ansioso para também me iniciar nessas brincadeiras, que terminavam quase sempre com uma frigideirada de passarinhos fritos e que eram o nosso consolo.
Até que, chegando a minha hora, num dia feriado e em época de passagem da passarada de arribação, combinámos os dois, arranjámos lagartas que se tiraram dos caules de milho e se prendiam com um aramito muito fino ao mecanismo da ratoeira, lá partimos manhã muito cedo os dois para a grande caçada, segundo a minha imaginação.
Chegados à quinta, marcamos um bom perímetro e meu irmão já habituado às andanças, tratava de escavar ligeiramente a terra, armar e tapar a ratoeira de forma a enganar as vidas inocentes que lá fossem depenicar.
Claro que, nesta altura fazer a descrição de como se processava e decorria se eles caíam ou não, não é difícil.
Difícil seria enganá-los, porque alguns são espertíssimos e bastava ver-nos por ali para debandarem para outros lados e todo o nosso trabalho era infrutífero.
Eu, que me via naqueles assados pela primeira vez, não descansava em querer ver um passarito cair na ratoeira, recebendo por isso reprimendas do meu irmão para me afastar do local.
Até que, já farto de esperar, aborrecido por não ver o meu desejo realizado, resolvi abandonar a caçada e regressar a casa sozinho, deixando o mano com a trabalheira de efectuar a recolha sozinho, mas depois na mesa, seria o primeiro a sentar-me para degustar as pequenitas aves.
Maroto, como sempre, e já longe dos seus olhares, achei uma frigideira abandonada, com buracos e cheia de ferrugem e coloquei-lhe uma meia dúzia de “castanhos” de burro, que era coisa que naquela época não faltava em qualquer sítio, e fui colocá-la numa ratoeira, como se de pássaros se tratasse.
Quando cheguei a casa, minha mãe não se admirou de eu vir tão cedo, pois já tinha calculado que eu me iria aborrecer.
Por volta da uma hora da tarde, meu irmão regressa e eu, ao avistá-lo ao longe, fui esconder-me no sótão, que tinha duas portas, não fosse ele vir com os azeites e ir-me aos “queixos” e assim enquanto ele subia e entrava por uma eu raspava-me pela outra.
Largou as ratoeiras e a passarada e desatou a chamar-me. Zé, ó Zé, anda cá que o mano não te bate, só quero a tua ajuda para depenar os pássaros. Tendo eu com os meus 7 anitos irrequietos respondido assim. Pois não, eu sei que não me queres bater, tu só me queres dar uns beijinhos, mas desses não estou interessado; olha os da frigideira arranca-lhes tu as penas.
É evidente que com esta frase ainda o enfureci mais e foi aí que a mãe Júlia se apercebeu da situação e lá pôs água na fervura, de forma a que o Zé escapasse de levar umas “lamparinas” no “trombil” e não ficasse sem ferrar o dente em 4 ou 5 passaritos fritos, que diga-se estavam como sempre, de comer e chorar por mais. No entanto pelo sim pelo não, não me sentei ao pé dele.
O ser humano nunca deixa de gostar de brincar. Hoje, como outrora, causar uma pequena arrelia a um amigo, para provocar o riso, primeiro de uma das partes, depois a generalizar-se e rirem ambos até às lágrimas, vencidos por essa força irresistível chamada humor e que, ao que parece, só a nossa espécie possui.

4.4.08

ANÚNCIO DE JORNAL

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Cá estamos nós outra vez em presença do Bap..tista, para vos contar uma aventura em que se meteu e que quase lhe custou o divorcio, com todas as consequências que daí normalmente advêm.
Várias vezes ouvi o Bap..tista dizer que era felicíssimo com a mulher com quem tinha casado e que o facto de como no outro conto referi, ser mais feia que o “Demónio da Tasmânia” só lhe trazia vantagens, dado ter poucas possibilidades de vir a ser cornudo, pois ninguém se ia apaixonar por ela.
Portanto o nosso homem do bigode farfalhudo movimentava-se à vontade na tentativa de arranjar mulherio que lhe desse a satisfação plena nos seus devaneios.
Um dia passou-lhe a negra pela cabeça, vai ao Diário de Notícias e coloca um anúncio a procurar “Senhora para Convívio” – Homem 1/2 idade, separado, com muito amor para dar tal e tal (aquele paleio que vimos nesses anúncios).
Na realidade, por incrível que pareça, não fazem vocês ideia de quantas respostas recebem os que põem anúncios deste teor. É de todo o País, de todos os extractos sociais e de todas as idades. Eram tantas, tantas as respostas, que eu também ajudei a abrir algumas cartas. Foi à ganância, com risadas à mistura, os textos mais variados, alguns dramáticos, outros de mijar a rir e alguns até a oferecerem um “ensaio de murro” se fosse coisa de brincadeira. Depois é separar o Joio do Trigo (não Trigo do Joio), entrar em contacto com as interessadas, dar números de telefones, marcar encontros etc.
Pelo teor de uma das cartas e acompanhada de fotografia de meio corpo, o Bap.tista achou que estava encontrada a mulher onde iria fazer “coutada” por uns tempos. Marca encontro para a rua Vale de Santo António (mais tarde constatou que nem Santo António lhe valeu), um pouco mais acima do Banco Pinto Sotto Mayor e no dia aprazado lá foi à aventura de que tanto gostava.
Sentado dentro do seu descapotável BMW, aguardava ansioso pela estrela (já de- cadente) da sua vida, aquela que durante dois ou três meses iria mudar o comportamento e o estado de espirito do Bap.tista. Esperou tanto tempo que estava disposto a dar de “frosques”, quando vê surdir lá em cima e andando na sua direcção uma mulher, baixa, gordinha, vestida com saia e casaco a puxar para o cor de rosa, com um lenço da mesma cor, mas esta mais acentuado, bem farfalhudo ali por debaixo dos queixos, mala de cabedal vermelha enfiada no braço e uns sapatos também vermelhos com ‘/2 salto de correia e fivela a passar por cima do peito do pé. Sapatos iguais ou muito parecidos com aqueles que usam as bailarinas de flamengo. Ela dá um pequeno toque no vidro e pergunta. É o Senhor Baptista? Que desilusão, a voz dela era fina, estridente incomodativa aos tímpanos. O galã, abrindo a porta diz: Sim, sim, faz favor de entrar. Ela entra, ajeita-se, senta-se, nota-se que está feliz ao contrário do Bap.tista que ao olhar aquela figura e a ouvir a sua voz está completamente desvairado e fora de si. Pergunta-lhe se tem alguma preferencia por sítio onde possam ir jantar, sendo-lhe respondido que está livre como os passarinhos e disposta a estar com ele o tempo que ele entender como necessário para se conhecerem melhor e tomarem uma resolução da sua vida.
Um dia não são dias e um homem é um homem, portanto toma uma resolução imediata e diz : vamos jantar a Cascais (acrescentando em pensamento, que em ultimo recurso deitava-a à boca do inferno), admitindo que ela recusaria. Perfeitamente de acordo, o Baptista manda.
A “Madama” vai dando a conhecer ao conquistador por anúncio que é divorciada, tem uma filha a precisar de uns sapatos, que o ex-marido era um malandro que a levou para o Canadá no sentido de ver o que a “Cana dá” e que se viu livre dela na primeira oportunidade.
O Bap.tista diz-se separado, sem filhos, gerente duma empresa distribuidora de bebidas, dando assim à sua companheira ocasional, boas perspectivas de futuro.
Mas aquela voz embirrante que ela tinha, colocava o Bap.tista fora de si, aliado à sua figura que não traduzia nada daquilo que tinha idealizado (era assim mais ou menos da mesma altura e um pouco mais forte do que a artista de teatro Maria Vieira). Pelo caminho vão trocando impressões e o nosso homem está disposto a não dar continuidade à aventura e então inicia este tipo de conversa.
Diz-lhe que gostava de praia, ela responde-lhe que adorava praia, diz-lhe que o campo é tudo para ele e ela responde-lhe que o campo é tudo para ela, que não gostava de andar de avião, ela responde-lhe que detesta andar de avião. Que não gosta de peixe grelhado e ela detesta-o. Que fazer, meu Deus... onde me meti; ter que pagar um jantar a este emplastro. O que é certo é que chegaram a Cascais, desceram da viatura, ela queria enfiar o seu braço no do Bap.tista, que disfarçadamente recusou e encaminharam-se para o restaurante “Pescador”, na altura um dos melhores daquela Cidade (esclareço que o Bap.tista sempre gostou de ter a sanita em plano superior). E eu, sinceramente também não estava a perceber o Bap.tista. Sentam-se e nosso homem só tinha no bolso 1.800$00, que daria bem para a despesa da noite. Comeram uma caldeirada à pescador, acompanhada de uma garrafa de “Gatão” (diga-se que para o meu gosto é a fina flor do entulho), não comeram sobremesa, não beberam café e a despesa foi nem mais nem menos do que os 1.800$00. Claro que o nosso homem, fazendo ares de importante foi dizendo à companheira que nunca dava gratificações porque os empregados já têm o seu ordenado, respondendo ela que também não o fazia.
Quer dizer, afinal o Bap.tista não poderia ter escolhido melhor. Era a pessoa ideal para ser sua companheira na vida fora. Gostos iguais em tudo.
Matutando como iria sair daquela aventura, admitiu que o resolvia desta maneira: perguntando-lhe, Violante, acaso tens no corpo sinal de alguma operação que tivesses feito? Repugna-me os sinais de operações no corpo de uma mulher. Que ideia, não senhor, A não ser o sinal da cesariana que fiz quando tive a minha filha, mas quase que já não se nota. Então, pronto, tive muito gosto em conhece-la mas, está tudo acabado entre nós. Que disparate, isto não se nota nada, desaperta a saia e ali mesmo dentro do popó mostra a cicatriz ao Bap.tista que nem quis olhar, fingindo-se terrivelmente transtornado.
Fez-se noite e quando passam em Carcavelos, no parque de estacionamento do Restaurante Fateixa, já havia como era hábito uns carros com pares, que apreciavam a paisagem marítima e o Bap.tista, fala com os seus botões, mas que é isto, trago-a a passear, pago-lhe um jantar e agora não tiro proveito, era o que faltava. Encaminha a viatura para junto das outras e enrola-se na Violante. Esta, a julgar que afinal o problema da cicatriz da cesariana estava solucionado não opõe resistência, cede aos seus desejos mais ferozes, estiveram tempos infinitos esquecendo as horas, até que de repente as viaturas debandam imediatamente com a chegada do carro patrulha da PSP e o Baptista para não se ver em mais apuros faz o mesmo. Vestiram-se com pressa, atabalhoadamente e em andamento, levando-a outra vez à rua Vale de Santo António, com a promessa que lhe telefonaria no outro dia. Regressou a casa pelas 2,30 da madrugada, os meninos já dormiam, mas a luz do seu quarto estava acesa. Sua mulher estava sentada na cama a fazer malha, com a cara que Deus lhe deu, nunca se sabendo se estava satisfeita, infeliz ou fula. O Baptista para desanuviar o ambiente e sem que ela lhe tivesse perguntado, vai-se despindo e atirando para o ar que a culpa de chegar àquela hora era do seu sócio Miguel, que era um calão e ele é que tinha de fazer tudo no escritório. Ainda com a camisa vestida, mas com as calças na mão, a mulher dispara esta pergunta: Bap.tista, desde quando é que tu vestes cuecas de mulher e às pintinhas?
Secou a boca ao Bap.tista, arrepiou-se, olhou para a sua figura e vê-se, com cuecas femininas grandes (eram as do cu da Violante) às pintas, que mais parecia um saco de ir às compras a qualquer mercearia de comércio local.
O “demónio” levanta-se e a bufar pelo nariz investe contra ele, quer tirar-lhe as cuecas, prova do terrível crime que o marido tinha cometido. Ele completamente desvairado, sem saber o que fazer e por falta de umas bandarilhas ali à mão, optou por fugir para a garagem e ela não está com meias medidas. Fecha-lhe a porta, castigando-o a dormir dentro do automóvel e sem roupa para fazer muda.
A Violante, que não tinha que dar contas a ninguém, não teria passado por cena tão caricata, mas ao ver-se em casa de “slip” bem aconchegado ás suas pernas grossas e do seu cu rechonchudo, desatou durante vários dias a tentar entrar em contacto com o Bap.tista, julga-se para permutarem as peças íntimas e para lhe pedir dinheiro para os sapatos da filha, que subtilmente tinha abordado novamente enquanto viam o brilho da lua a reflectir na água do mar.
Nos dias imediatos, “ o atirador” tratou de deitar fora todas as outras cartas que tinha recebido, abandonando aquela maneira de conhecer “garinas” e só se viu livre da Violante quando uma colega do escritório, fazendo-se passar por sua secretária a informou (mentindo) que o Sr. Bap.tista tinha ido à Alemanha em negócios.