O número 9 foi o primeiro a fugir à frente do “Novilho”.
Cá está ele com o carimbo no ar. É o primeiro da esquerda.
De seu nome Apolinário, nasceu por volta de 1939/40, numa pequena povoação do sul do Tejo, freguesia de Amora, acrescentando mais uma boca a comer naquela casa de gente pobre, onde já corriam de pé descalço mais 8 irmãos. O progenitor, trabalhador rural, gostava de encostar a barriga no balcão da taberna, dando-lhe jeito aquela posição, porque depois de emborcar uns “baldes de 3” sentia as pernas a fraquejar e assim o apoio dava-lhe a estabilidade que de outra maneira não conseguiria. Era raro o dia que não regressava a casa acompanhado de uma “carraspana”.
O seu menino nasceu com defeito no pé esquerdo e nem a ortopedia conseguiu rectificar a anomalia, ficando, pois, aleijado para toda a vida.
O seu pai, conforme os filhos iam nascendo, atribuía um número a cada um deles. Ao nosso Apolinário, pela ordem do nascimento calhou o número 9 (vejam só que, futebolisticamente falando, a equipa daquela casa seria uma equipa destinada ao insucesso, pois iria ter um avançado centro coxo). As crianças iam crescendo e, quando havia festa na terra, qual bando de pardais, saltitavam pelos carrosséis, pistas de carrinhos de choque, tudo quanto era barracas de feira, enfim dando azo às aventuras das suas traquinices. Naturalmente, um perdia-se, outro achava-se, até que, por muito que se procurassem um deles, não aparecia mesmo. Aí entravam o pânico e apressadamente regressavam a casa ou ao tasco onde o pai estivesse, a dar-lhe conhecimento que o n.º “tal” se tinha perdido na festa. Entre o beber e o arriar do copo, o pai lá ia dizendo que o número tal e o tal fossem procurar o número que faltava, e que os outros regressassem a casa, pois quando ele regressasse fariam as contas. E, no fundo, raras eram as vezes que dava uns açoites no que se portasse mal.
Com 12 anos, o nosso herói começou a aprender a profissão de sapateiro e, mais 2 ou 3 depois, já era exímio na arte de colocar umas tombas, que uns joanetes mais desenvolvidos deformavam os “chanatos”. Usava um sapato especial, dado só conseguir arriar no solo o peito do pé, ficando o calcanhar no ar, assim como os sapatos de salto alto, que as senhoras tanto gostam e que tanto mal lhes fazem. Por isso o seu andar acabava por ser muito cadenciado e dando um toque sempre que batia no chão. A seguir ao ofício de sapateiro, teve vários trabalhos, até que ainda novo acabou por se reformar.
Na localidade há uma colectividade que, entre outras, tem a secção de atletismo e consequentemente corredores de fundo. Na altura que iniciou a aprendizagem de sapateiro, o Apolinário, aproveitando a distracção de uma galinha e do seu dono, corredor de fundo no clube, pegou no galináceo, meteu-a debaixo do braço e ala pernas que vos quero. O animal faz barulho, o dono dá por isso e desata a correr para apanhar o “larápio” furtivo. Impossível. O coxo demonstrou ter competência para fazer parte da equipa de atletas lá da terra e não foi apanhado.
Nunca gostou que lhe chamassem coxo e afinava seriamente se percebia que alguém o fazia maldosamente, tendo no entanto por vezes atitudes de humor relacionadas com a sua infelicidade.
Certa vez, um amigo convidou-o para no seu automóvel irem dar um passeio a Évora e foram almoçar num dos restaurantes da cidade, que tem um balcão de serviço de ”barra” e pavimento de soalho de madeira. O silêncio foi interrompido pelo toque, toque do pé do Apolinário, a dirigirem-se para uma das mesas vagas e, por detrás deles, em voz bastante acentuada e sotaque alentejano, alguém diz assim: É com…padre, empres...te aííí o cárim...bo.
Olham para trás e toda a gente comia em silêncio, como se nada se passasse. A cara do Apolinário tornou-se em arco-íris, sentou-se e desabou a sua ira com o companheiro de viagem. Não conseguia empurrar o entrecosto com as batatas pela goela abaixo e lamentava não saber quem tinha sido o alarve que se tinha metido com ele, que lhe daria com a bandeja pela cabeça abaixo. Acabado o almoço, e quando já se encontravam à porta de saída, do balcão, onde vários clientes bebiam cerveja alguém atira com esta: Com...pádre... ‘stá áqui á tinta... pró...cárim...bo. Desatam todos a rir e o nosso amigo fez promessa de nunca mais ir a Évora. O Zé chegava a estar entre 6/7ou 8 anos sem o ver. E somente eu era capaz de, sempre que nos encontrávamos, ter a coragem de lhe perguntar se já tinha almofada nova para o cárim...bo.
Entre um abraço forte, ia-me dizendo ao ouvido que só de mim admitia tamanho insulto, acabando por rirmos à gargalhada.
Adorava touradas, o nosso n.º 9, e lamentava-se de ser coxo, impedindo-o por isso de tentar ser toureiro. Sempre que havia uma novilhada lá estava na primeira fila para se deliciar e fazer uma faena. Certa vez, convidei-o para ir comigo a uma tenta que se realizava numa quinta agrícola em Salvaterra de Magos. Pelo caminho não falou de outra coisa que não fosse de touradas, toureiros e seus trajes. Perdeu o pio e pediu-me para não dizer a ninguém, quando se abriu a porta do curro e em vez de entrar na praça um novilho, entrou um “jerico” bebé aos pinotes, fazendo os 3 candidatos ocasionais a darem de “frósques”.
Evidentemente ficaram aprovados em simulação de fugida.
O seu menino nasceu com defeito no pé esquerdo e nem a ortopedia conseguiu rectificar a anomalia, ficando, pois, aleijado para toda a vida.
O seu pai, conforme os filhos iam nascendo, atribuía um número a cada um deles. Ao nosso Apolinário, pela ordem do nascimento calhou o número 9 (vejam só que, futebolisticamente falando, a equipa daquela casa seria uma equipa destinada ao insucesso, pois iria ter um avançado centro coxo). As crianças iam crescendo e, quando havia festa na terra, qual bando de pardais, saltitavam pelos carrosséis, pistas de carrinhos de choque, tudo quanto era barracas de feira, enfim dando azo às aventuras das suas traquinices. Naturalmente, um perdia-se, outro achava-se, até que, por muito que se procurassem um deles, não aparecia mesmo. Aí entravam o pânico e apressadamente regressavam a casa ou ao tasco onde o pai estivesse, a dar-lhe conhecimento que o n.º “tal” se tinha perdido na festa. Entre o beber e o arriar do copo, o pai lá ia dizendo que o número tal e o tal fossem procurar o número que faltava, e que os outros regressassem a casa, pois quando ele regressasse fariam as contas. E, no fundo, raras eram as vezes que dava uns açoites no que se portasse mal.
Com 12 anos, o nosso herói começou a aprender a profissão de sapateiro e, mais 2 ou 3 depois, já era exímio na arte de colocar umas tombas, que uns joanetes mais desenvolvidos deformavam os “chanatos”. Usava um sapato especial, dado só conseguir arriar no solo o peito do pé, ficando o calcanhar no ar, assim como os sapatos de salto alto, que as senhoras tanto gostam e que tanto mal lhes fazem. Por isso o seu andar acabava por ser muito cadenciado e dando um toque sempre que batia no chão. A seguir ao ofício de sapateiro, teve vários trabalhos, até que ainda novo acabou por se reformar.
Na localidade há uma colectividade que, entre outras, tem a secção de atletismo e consequentemente corredores de fundo. Na altura que iniciou a aprendizagem de sapateiro, o Apolinário, aproveitando a distracção de uma galinha e do seu dono, corredor de fundo no clube, pegou no galináceo, meteu-a debaixo do braço e ala pernas que vos quero. O animal faz barulho, o dono dá por isso e desata a correr para apanhar o “larápio” furtivo. Impossível. O coxo demonstrou ter competência para fazer parte da equipa de atletas lá da terra e não foi apanhado.
Nunca gostou que lhe chamassem coxo e afinava seriamente se percebia que alguém o fazia maldosamente, tendo no entanto por vezes atitudes de humor relacionadas com a sua infelicidade.
Certa vez, um amigo convidou-o para no seu automóvel irem dar um passeio a Évora e foram almoçar num dos restaurantes da cidade, que tem um balcão de serviço de ”barra” e pavimento de soalho de madeira. O silêncio foi interrompido pelo toque, toque do pé do Apolinário, a dirigirem-se para uma das mesas vagas e, por detrás deles, em voz bastante acentuada e sotaque alentejano, alguém diz assim: É com…padre, empres...te aííí o cárim...bo.
Olham para trás e toda a gente comia em silêncio, como se nada se passasse. A cara do Apolinário tornou-se em arco-íris, sentou-se e desabou a sua ira com o companheiro de viagem. Não conseguia empurrar o entrecosto com as batatas pela goela abaixo e lamentava não saber quem tinha sido o alarve que se tinha metido com ele, que lhe daria com a bandeja pela cabeça abaixo. Acabado o almoço, e quando já se encontravam à porta de saída, do balcão, onde vários clientes bebiam cerveja alguém atira com esta: Com...pádre... ‘stá áqui á tinta... pró...cárim...bo. Desatam todos a rir e o nosso amigo fez promessa de nunca mais ir a Évora. O Zé chegava a estar entre 6/7ou 8 anos sem o ver. E somente eu era capaz de, sempre que nos encontrávamos, ter a coragem de lhe perguntar se já tinha almofada nova para o cárim...bo.
Entre um abraço forte, ia-me dizendo ao ouvido que só de mim admitia tamanho insulto, acabando por rirmos à gargalhada.
Adorava touradas, o nosso n.º 9, e lamentava-se de ser coxo, impedindo-o por isso de tentar ser toureiro. Sempre que havia uma novilhada lá estava na primeira fila para se deliciar e fazer uma faena. Certa vez, convidei-o para ir comigo a uma tenta que se realizava numa quinta agrícola em Salvaterra de Magos. Pelo caminho não falou de outra coisa que não fosse de touradas, toureiros e seus trajes. Perdeu o pio e pediu-me para não dizer a ninguém, quando se abriu a porta do curro e em vez de entrar na praça um novilho, entrou um “jerico” bebé aos pinotes, fazendo os 3 candidatos ocasionais a darem de “frósques”.
Evidentemente ficaram aprovados em simulação de fugida.
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