.
O 25 de Abril trouxe-nos coisas boas, coisas más e coisas assim. Fundaram-se partidos, inteiros e lascados. Começaram as festas dos partidos (o nome foi posto a preceito e a condizer com a realidade), grande parte das vezes em conjunto, rosas com laranjas, vermelhos com semi-vermelhos e até azuis e amarelos, que depois de muita música, muita charanga, muitas “minis”e muito tinto à mistura, acabava em cada zaragata de se lhe tirar o chapéu, regressando a casa muitos filiados com as bandeiras descaídas, já murchas e com eles partidos, alguns mesmo irremediavelmente partidos, (com ligaduras na cornadura) depois de terem passado pelas urgências hospitalares.
Decorridos que eram mais 365 dias, e depois de uma publicidade bem abundante, as festas lá se continuavam a fazer, mas mais individualizadas.
O PCP instalou-se na Cidade de Amora, mais propriamente na Quinta da Atalaia. Anuncia sempre festas de arromba, convida ou contrata artistas e oradores e, para não fugir à regra, são sempre os mesmos a puxar pela garganta e a botar palavra.
Dos mais variados recantos do Portugal Conhecido, partem com destino àquele recinto camionetas cheias de folgazões, outros com muita fé, que esperam passar três bem vividos dias no convívio das gentes da mesma cor e assim a comissão organizadora arrecada mais uns milhares de euros que servirão no futuro para poderem ser gastos em campanhas eleitorais, já que as dádivas de outras origens estão severamente sob controle. De uma dessas terras conhecidas (dos naturais), a comissão local organizou uma excursão de camioneta a preço módico e pago a prestações sem juros para uma deslocação àquele recinto e durante o período da realização do evento.
Maria Imaculada, menina de 18 anos, prendada e com gosto esmerado para fazer renda de bilros, que aprendeu com uma tia solteirona que usava óculos e tinha borbulha escura na parte lateral direita do seu nariz, inscreveu-se e à “titi”, depois de ter o consentimento da progenitora, já que o seu pai, ocupado com os trabalhos no campo, pouco se importava com essas coisas.
Dois dias antes da partida, a Maria Imaculada estava esfuziante, alegre, mexida, ia pela primeira vez a uma festa fora da terra e visitar Lisboa, coisa com que tanto sonhara, recebe a notícia que por indisposição ocasional a sua tia e protectora na viagem não poderia dar o passeio.
A Maria Imaculada roga, pede à mãe que a deixe ir sozinha, porque já não era criança e sabia bem cuidar de si. Contra sua vontade, pois as mães sabem sempre como são as irreverências da juventude, lá acedeu ao pedido e a Maria Imaculada, de cabaz e farnel destinado à viagem, lá partiu rumo ao Sul. Olhando através da janela ainda vê a mãe com uma lagrimazita ao canto do olho, preocupada por alguma desgraça que acontecesse e pela falta que a menina lhe fazia em casa.
Tudo correu bem e pelo caminho os excursionistas trocaram de migalhas numa sã e leal camaradagem, não fossem eles do PCP.
Logo na primeira noite e junto do palco principal, a Maria Imaculada conheceu o Jorge, um rapazito alentejano, bem parecido, uma carinha laroca, que com os seus 21 anos, deitou o coração da Maria Imaculada abaixo, ela que nunca tinha estado apaixonada por ninguém.
Foi um amor à primeira vista e o rapaz, depois de muita conversa, mimos e subterfúgios
(para provar que afinal os alentejanos não são assim tão lentos), saltou-lhe “práspinha”. A principio e com a emoção a coisa nem lhe soube mal nem bem, mas um jovem na flor da idade é imparável e com a continuação passou a sentir-se à vontade, mais desinibida e já não queria outra coisa, porquanto afinal aquilo tinha emoções e sensações que nunca tinha sentido. Foram portanto até àquela altura os melhores três dias da sua vida. Sozinha sem ter que dar contas a ninguém e ninguém da família para conter as arremetidas que o alentejano lhe dava.
Portanto, quando a festa acabou e voltou outra vez à realidade, sentiu uma grande nostalgia por se aperceber que tinha de voltar novamente às origens e que o Jorge nem sequer lhe tinha dito de onde era. Por isto não viria mal ao mundo, porquanto ela, durante três dias, também nem soube de que terra era.
E o nosso Jorge que tinha sido tão amoroso, tão terno; à partida, nem quis aparecer junto à camioneta da excursão, não fosse a moça desmaiar nos seus braços.
Quando chegou a casa de mãos a abanar, pois até o cabaz com que tinha levado o farnel ficou esquecido logo no primeiro dia, a perguntas dos familiares desejosos de saber como foi e como tudo tinha corrido, lá foi dizendo que o Carlos do Carmo cantou todos os dias e a todas as horas (ela não tinha visto outro), fazendo a admiração dos pais, lá se deitou, imaginou e sonhou com o Jorge Alentejano.
Pela manhã, acabou por contar à sua mãe tudo o que tinha acontecido na Quinta da Atalaia e tim por tim. Aí a “Nai”, qual locomotiva a carvão, trata de arranjar a Maria Imaculada, veste o seu melhor fato e a toque de caixa dirige-se ao Centro de Saúde local onde procurou o seu Médico de Família.
Para explicar o que pretendia, não está com meias medidas e dispara logo à primeira pergunta:
Senhor Doutor, a minha filha foi numa excursão a Lisboa e perdeu os 3 na Festa do Avante.
O Médico, que por sinal é um pouco gago, responde-lhe: “En.en.então qé..qué..quer que vá lá à pró-pró-procura? E, se-se-se não achar, o que- que faço? Éla é que-que sabe onde os per-per-perdeu que-que vá lá.”
Mas, Sr. Dr., veja lá que só sabe que se chama Jorge e que é alentejano. Agora o que é que eu faço?
Gaguejando ainda mais, o médico respondeu-lhe... “que.. que vó..volte lá pró-pró ano, porque ele dé-dé deve lá-lá estar, sa-sa-são sem sempre os me-me-mesmos a ir à fé-festa...”
Decorridos que eram mais 365 dias, e depois de uma publicidade bem abundante, as festas lá se continuavam a fazer, mas mais individualizadas.
O PCP instalou-se na Cidade de Amora, mais propriamente na Quinta da Atalaia. Anuncia sempre festas de arromba, convida ou contrata artistas e oradores e, para não fugir à regra, são sempre os mesmos a puxar pela garganta e a botar palavra.
Dos mais variados recantos do Portugal Conhecido, partem com destino àquele recinto camionetas cheias de folgazões, outros com muita fé, que esperam passar três bem vividos dias no convívio das gentes da mesma cor e assim a comissão organizadora arrecada mais uns milhares de euros que servirão no futuro para poderem ser gastos em campanhas eleitorais, já que as dádivas de outras origens estão severamente sob controle. De uma dessas terras conhecidas (dos naturais), a comissão local organizou uma excursão de camioneta a preço módico e pago a prestações sem juros para uma deslocação àquele recinto e durante o período da realização do evento.
Maria Imaculada, menina de 18 anos, prendada e com gosto esmerado para fazer renda de bilros, que aprendeu com uma tia solteirona que usava óculos e tinha borbulha escura na parte lateral direita do seu nariz, inscreveu-se e à “titi”, depois de ter o consentimento da progenitora, já que o seu pai, ocupado com os trabalhos no campo, pouco se importava com essas coisas.
Dois dias antes da partida, a Maria Imaculada estava esfuziante, alegre, mexida, ia pela primeira vez a uma festa fora da terra e visitar Lisboa, coisa com que tanto sonhara, recebe a notícia que por indisposição ocasional a sua tia e protectora na viagem não poderia dar o passeio.
A Maria Imaculada roga, pede à mãe que a deixe ir sozinha, porque já não era criança e sabia bem cuidar de si. Contra sua vontade, pois as mães sabem sempre como são as irreverências da juventude, lá acedeu ao pedido e a Maria Imaculada, de cabaz e farnel destinado à viagem, lá partiu rumo ao Sul. Olhando através da janela ainda vê a mãe com uma lagrimazita ao canto do olho, preocupada por alguma desgraça que acontecesse e pela falta que a menina lhe fazia em casa.
Tudo correu bem e pelo caminho os excursionistas trocaram de migalhas numa sã e leal camaradagem, não fossem eles do PCP.
Logo na primeira noite e junto do palco principal, a Maria Imaculada conheceu o Jorge, um rapazito alentejano, bem parecido, uma carinha laroca, que com os seus 21 anos, deitou o coração da Maria Imaculada abaixo, ela que nunca tinha estado apaixonada por ninguém.
Foi um amor à primeira vista e o rapaz, depois de muita conversa, mimos e subterfúgios
(para provar que afinal os alentejanos não são assim tão lentos), saltou-lhe “práspinha”. A principio e com a emoção a coisa nem lhe soube mal nem bem, mas um jovem na flor da idade é imparável e com a continuação passou a sentir-se à vontade, mais desinibida e já não queria outra coisa, porquanto afinal aquilo tinha emoções e sensações que nunca tinha sentido. Foram portanto até àquela altura os melhores três dias da sua vida. Sozinha sem ter que dar contas a ninguém e ninguém da família para conter as arremetidas que o alentejano lhe dava.
Portanto, quando a festa acabou e voltou outra vez à realidade, sentiu uma grande nostalgia por se aperceber que tinha de voltar novamente às origens e que o Jorge nem sequer lhe tinha dito de onde era. Por isto não viria mal ao mundo, porquanto ela, durante três dias, também nem soube de que terra era.
E o nosso Jorge que tinha sido tão amoroso, tão terno; à partida, nem quis aparecer junto à camioneta da excursão, não fosse a moça desmaiar nos seus braços.
Quando chegou a casa de mãos a abanar, pois até o cabaz com que tinha levado o farnel ficou esquecido logo no primeiro dia, a perguntas dos familiares desejosos de saber como foi e como tudo tinha corrido, lá foi dizendo que o Carlos do Carmo cantou todos os dias e a todas as horas (ela não tinha visto outro), fazendo a admiração dos pais, lá se deitou, imaginou e sonhou com o Jorge Alentejano.
Pela manhã, acabou por contar à sua mãe tudo o que tinha acontecido na Quinta da Atalaia e tim por tim. Aí a “Nai”, qual locomotiva a carvão, trata de arranjar a Maria Imaculada, veste o seu melhor fato e a toque de caixa dirige-se ao Centro de Saúde local onde procurou o seu Médico de Família.
Para explicar o que pretendia, não está com meias medidas e dispara logo à primeira pergunta:
Senhor Doutor, a minha filha foi numa excursão a Lisboa e perdeu os 3 na Festa do Avante.
O Médico, que por sinal é um pouco gago, responde-lhe: “En.en.então qé..qué..quer que vá lá à pró-pró-procura? E, se-se-se não achar, o que- que faço? Éla é que-que sabe onde os per-per-perdeu que-que vá lá.”
Mas, Sr. Dr., veja lá que só sabe que se chama Jorge e que é alentejano. Agora o que é que eu faço?
Gaguejando ainda mais, o médico respondeu-lhe... “que.. que vó..volte lá pró-pró ano, porque ele dé-dé deve lá-lá estar, sa-sa-são sem sempre os me-me-mesmos a ir à fé-festa...”