Meus caros amigos:
Nas andanças pelo mundo, o Zé foi aventureiro, namoradeiro, “cafageste”, como dizem os brasileiros, sei lá que mais coisas poderia acrescentar.
Fui um assíduo frequentador do Parque Mayer. Tinha pelas revistas à portuguesa um carinho muito especial. Não faltava em noites de estreia e houve algumas que as vi tantas, tantas vezes, que tenho a certeza que era capaz de substituir algum actor que faltasse. Havia um motivo para não deixar aquele recinto: é que a cantiga da Anita Guerreiro diz que os rapazes cheiram-lhes a raparigas e era esse cheiro que eu sentia quando lhe passava perto. O cheiro às coristas das revistas.
Tinha um amigo (julgo que já faleceu) que possuía uma casa com muitos quartos na rua Fernão Lopes, ali mesmo ao Saldanha, prédio já demolido, como todos os outros do mesmo lado dessa rua, que alugava quartos às coristas dos teatros do Parque Mayer.
Portanto já estão a ver! Cheiro a raparigas, coristas, e contacto fácil na casa do amigo que me as apresentava, deixando depois por minha conta os “ I love you”.
No prédio do amigo, no tempo do agarra, agarra, chegou a estar lá instalado o mrpp nos dois rés dos chãos, esquerdo e direito, tendo se calhar na altura sido ponto de encontro para o Durão Barroso, actual presidente da Comunidade Europeia, quando seu militante. De quando em quando havia visitas de outros partidos e a bordoada estalava por todo o lado, chegando alguns apaniguados do mrpp a refugiar-se, vindo pelas escadas de ferro das traseiras, em casa do meu amigo Sousa que residia no 3º andar esquerdo.
Os esgotos dos prédios antigos eram exteriores, de manilhas grés, feitas na cerâmica do Carvalhal, povoação situada perto de Terras Vedras. Era inestético, é verdade, mas em contrapartida quando por qualquer razão era necessário mexer-lhe, seria fácil a sua reparação. Estavam sempre situados nas traseiras e portanto não se viam, sendo as ligações das referidas manilhas feitas com cimento.
Um dia, nesse prédio houve uma rotura num desses canos ao nível superior do rés-do-chão, sendo necessário proceder à sua reparação.
O artista (pedreiro), no dia combinado com o proprietário do prédio, chegou cedo, montou escada que encostou à parede, subiu para confirmar bem o local da fissura, estudou a maneira mais conveniente de fazer um trabalho perfeito, preparou toda a ferramenta e atirou-se ao osso.
Antes porém, e não poderia ser de outra maneira, foi a todas as casas do lado esquerdo do prédio e recomendou que não fossem usados os esgotos, naquela manhã, porque ele ia proceder à sua reparação.
Todos os inquilinos tomaram conhecimento do facto e prometeram respeitar aquele pedido.
O homem iniciou o seu trabalho em cima das escadas, batendo com escopo e martelo ao nível da sua cabeça, partindo o grés da manilha, para poder fazer um remendo eficiente e definitivo para acabar com a anomalia.
Aí pela volta das 10:30, o Zé sobe as escadas do amigo para lhe fazer a costumeira visita, ouve a batucada do pedreiro, mas como é evidente não ligou ao assunto, até porque o desconhecia.
Chegado ao 3º andar, bate à porta, cumprimenta o amigo, que aproveitando a oportunidade da sua presença, pede para ficar ali em casa por 20 ou 30 minutos, dando-lhe assim a possibilidade de dar um pulinho ao Mercado do Matadouro, ali ao fim da rua, comprar abastecimentos para a comida do dia.
Claro que sim, e fico guardião do casebre pelo tempo que o Sousa se deslocava ao mercado. Judiei um pouco com um papagaio que tinha na gaiola preso por um pé e deu-me vontade de ir à casa de banho.
Na parede ao lado da sanita, existia uma janela que estava aberta e que dava para o saguão, ouvindo-se perfeitamente a labuta do pedreiro a arranjar a deficiência com esmero e perfeição, coisa a que eu estava perfeitamente alheio.
O Zé assenta-se e não é necessário dar mais explicações, porque todos nós sabemos o que o Zé fez. Acabado que foi o seu serviço, puxa a corrente do autoclismo e não tarda, que sente alarido, espreita pela janela e vê o pedreiro a ficar engasgado com a enxurrada que veio pelo cano abaixo.
Nesse preciso momento entra o Sousa, que ao ter conhecimento do uso inadequado da sanita ficou preocupado e tem este desabafo “ coitado do senhor, a fumar de charuto, quando nem toca em cigarros”.
Aí, não resisto e dou uma valente gargalhada, imediatamente abafada pelo barulho que ouvimos nas escadas.
O “sinistrado”, com a maceta na mão (coisa aí de 1 kg.) sobe-as e bate em todos os andares do lado esquerdo a perguntar quem tinha feito um trabalho daqueles, e que lhe dava com a maceta nos “.ornos” que o lixava.
Com os acontecimentos em desenvolvimento acelerado, optei em fazer figura de cobarde, não fosse acabar nas urgências do hospital de Santa Maria, ou estendido dentro de uma gaveta no piso -2.
O Sousa (era especialista em simulações) responde que dali não foi, porque ele nem estava em casa, tinha acabado de chegar naquele momento.
O certo é que o pedreiro desalvorou (sem ter feito o gosto ao dedo). Nunca mais lá apareceu e o dono do prédio teve que contratar outro para acabar o trabalho.
Todo o cuidado é pouco, até em casa e sentado na sanita um homem não está descansado, até naquele lugar pode originar um acidente de trabalho.
A seguradora deveria ter tido alguma dificuldade em atribuir, para estatística, o acidente na secção de Domésticos ou de Construção Civil.
Nas andanças pelo mundo, o Zé foi aventureiro, namoradeiro, “cafageste”, como dizem os brasileiros, sei lá que mais coisas poderia acrescentar.
Fui um assíduo frequentador do Parque Mayer. Tinha pelas revistas à portuguesa um carinho muito especial. Não faltava em noites de estreia e houve algumas que as vi tantas, tantas vezes, que tenho a certeza que era capaz de substituir algum actor que faltasse. Havia um motivo para não deixar aquele recinto: é que a cantiga da Anita Guerreiro diz que os rapazes cheiram-lhes a raparigas e era esse cheiro que eu sentia quando lhe passava perto. O cheiro às coristas das revistas.
Tinha um amigo (julgo que já faleceu) que possuía uma casa com muitos quartos na rua Fernão Lopes, ali mesmo ao Saldanha, prédio já demolido, como todos os outros do mesmo lado dessa rua, que alugava quartos às coristas dos teatros do Parque Mayer.
Portanto já estão a ver! Cheiro a raparigas, coristas, e contacto fácil na casa do amigo que me as apresentava, deixando depois por minha conta os “ I love you”.
No prédio do amigo, no tempo do agarra, agarra, chegou a estar lá instalado o mrpp nos dois rés dos chãos, esquerdo e direito, tendo se calhar na altura sido ponto de encontro para o Durão Barroso, actual presidente da Comunidade Europeia, quando seu militante. De quando em quando havia visitas de outros partidos e a bordoada estalava por todo o lado, chegando alguns apaniguados do mrpp a refugiar-se, vindo pelas escadas de ferro das traseiras, em casa do meu amigo Sousa que residia no 3º andar esquerdo.
Os esgotos dos prédios antigos eram exteriores, de manilhas grés, feitas na cerâmica do Carvalhal, povoação situada perto de Terras Vedras. Era inestético, é verdade, mas em contrapartida quando por qualquer razão era necessário mexer-lhe, seria fácil a sua reparação. Estavam sempre situados nas traseiras e portanto não se viam, sendo as ligações das referidas manilhas feitas com cimento.
Um dia, nesse prédio houve uma rotura num desses canos ao nível superior do rés-do-chão, sendo necessário proceder à sua reparação.
O artista (pedreiro), no dia combinado com o proprietário do prédio, chegou cedo, montou escada que encostou à parede, subiu para confirmar bem o local da fissura, estudou a maneira mais conveniente de fazer um trabalho perfeito, preparou toda a ferramenta e atirou-se ao osso.
Antes porém, e não poderia ser de outra maneira, foi a todas as casas do lado esquerdo do prédio e recomendou que não fossem usados os esgotos, naquela manhã, porque ele ia proceder à sua reparação.
Todos os inquilinos tomaram conhecimento do facto e prometeram respeitar aquele pedido.
O homem iniciou o seu trabalho em cima das escadas, batendo com escopo e martelo ao nível da sua cabeça, partindo o grés da manilha, para poder fazer um remendo eficiente e definitivo para acabar com a anomalia.
Aí pela volta das 10:30, o Zé sobe as escadas do amigo para lhe fazer a costumeira visita, ouve a batucada do pedreiro, mas como é evidente não ligou ao assunto, até porque o desconhecia.
Chegado ao 3º andar, bate à porta, cumprimenta o amigo, que aproveitando a oportunidade da sua presença, pede para ficar ali em casa por 20 ou 30 minutos, dando-lhe assim a possibilidade de dar um pulinho ao Mercado do Matadouro, ali ao fim da rua, comprar abastecimentos para a comida do dia.
Claro que sim, e fico guardião do casebre pelo tempo que o Sousa se deslocava ao mercado. Judiei um pouco com um papagaio que tinha na gaiola preso por um pé e deu-me vontade de ir à casa de banho.
Na parede ao lado da sanita, existia uma janela que estava aberta e que dava para o saguão, ouvindo-se perfeitamente a labuta do pedreiro a arranjar a deficiência com esmero e perfeição, coisa a que eu estava perfeitamente alheio.
O Zé assenta-se e não é necessário dar mais explicações, porque todos nós sabemos o que o Zé fez. Acabado que foi o seu serviço, puxa a corrente do autoclismo e não tarda, que sente alarido, espreita pela janela e vê o pedreiro a ficar engasgado com a enxurrada que veio pelo cano abaixo.
Nesse preciso momento entra o Sousa, que ao ter conhecimento do uso inadequado da sanita ficou preocupado e tem este desabafo “ coitado do senhor, a fumar de charuto, quando nem toca em cigarros”.
Aí, não resisto e dou uma valente gargalhada, imediatamente abafada pelo barulho que ouvimos nas escadas.
O “sinistrado”, com a maceta na mão (coisa aí de 1 kg.) sobe-as e bate em todos os andares do lado esquerdo a perguntar quem tinha feito um trabalho daqueles, e que lhe dava com a maceta nos “.ornos” que o lixava.
Com os acontecimentos em desenvolvimento acelerado, optei em fazer figura de cobarde, não fosse acabar nas urgências do hospital de Santa Maria, ou estendido dentro de uma gaveta no piso -2.
O Sousa (era especialista em simulações) responde que dali não foi, porque ele nem estava em casa, tinha acabado de chegar naquele momento.
O certo é que o pedreiro desalvorou (sem ter feito o gosto ao dedo). Nunca mais lá apareceu e o dono do prédio teve que contratar outro para acabar o trabalho.
Todo o cuidado é pouco, até em casa e sentado na sanita um homem não está descansado, até naquele lugar pode originar um acidente de trabalho.
A seguradora deveria ter tido alguma dificuldade em atribuir, para estatística, o acidente na secção de Domésticos ou de Construção Civil.