3.5.12

Quase...





Uma historia verídica com um melzinho à mistura.
Asdrúbal Venceslau nasceu num pequeno lugar de um Concelho do Distrito de Setúbal, a uma centena de metros de uma fábrica que transformava pescado em farinha.
Seu pai era lá trabalhador e ao Asdrúbal não foi difícil habituar-se aqueles cheiros esquisitos, às vezes mesmo nauseabundo que em certos dias saiam da instalação fabril onde o progenitor ganhava amargamente o pão de cada dia para sustentar a família.
Andou na primária, apanhou réguadas na D. Emília, tirou a 4ª classe e evidentemente com uma cunha do pai, lá foi trabalhar para a Sereia - Fabrica de Adubos Organicos, assim se chamava a Fábrica.
Não foi moço de aventuras na juventude, até que, casou, fazendo a sua vida de pobre, trabalho casa e casa trabalho, comprou os alimentícios a cão, registado no rol do merceeiro - Loureiro, que às vezes por engano no acerto das contas semanais, somava também a data. A vida monótona do trabalhador escravo, fê-lo velho no aspecto e na idade. Mas o azar nem sempre está atrás da porta e a mulher do Asdrúbal que trabalhava numa corticeira sueca, que por sinal a empresa Amorim. comprou para desmanstelar, e onde nesses terrenos um clube desportivo de Lisboa, que veste de vermelho, tem um campo de futebol, comprou a um cauteleiro de rua, dois décimos de bilhete de lotaria, que foram bafejadas com a sorte grande.
O casal não tinha filhos, mas aquelas notas que não eram esperadas fizeram milagres, e a Maria passou a ir 2 vezes por semana à cabeleireira, iam de taxi jantar à Floresta do Ginjal a Cacilhas, ficando sempre bem perto da varanda para desfrutar da magnifica vista da Lisboa Nocturna.  O tempo na sua corrida louca não respeita ninguém e aqueles dois pobres/ricos, viram-se com  mais de 80 anos, não obstante a Maria dizer perante as outras clientes da cabeleireira que ainda estava para as curvas e sentia que ainda tinha as carnes frescas.
Até que, inesperadamente, chegou a vez de entregar a alma ao criador. Teve um velório sem carpideiras e pouca gente a acompanhou ao cemitério.
E o Asdrúbal Venceslau, viu a vida a andar para trás, deu ais, magicou e resolveu não viver a resto da vida sozinho. Tinha que arranjar alguém para sua companheira, mas alguém que não fosse empecilho, porque para isso já bastava ele. Procurou, bateu as povoações limítrofes apreciando "mulheriu", gastou solas de sapatos e finalmente descobri uma jovem bonita e atraente, que se dispôs a viver com ele, desde que casassem e ele passasse a usar o nome de Venceslau, dado o Asdrúbal ser o nome que usava quando era casado com a Maria.
O Venceslau não esteve com meias medidas, aceitou tudo de bom agrado e até pensou fazer uma "despedida de Viúvo". Não seria caso insólito, mas as pernas já estavam trôpegas, resolvendo em contra partida fazer uma festa de arromba, convidando toda a malta da terceira idade sua conhecida para estarem presentes no casamento.
Foi uma festa brilhante e toda a gente estava espantada com a ligeireza com que ele se movia, abraçando a torto e a direito os presentes. Numa Agência, acompanhada da nubente, marcou a lua de mel numa viagem à velha Itália. Dinheiro fresco é o que faz em casa de gente pobre.Vesúvio, Roma, Milão, Veneza, Capri, enfim um passeio de sonho, especialmente para quem acaba de casar em segundas núpcias.
Quando regressaram, os amigos velhos como ele. acorreram a sua casa  interessados  em saber como tinha decorrido a viagem, prontificando-se imediatamente o Venceslau a exemplificar o quanto tinha sido maravilhoso tudo quanto viram e quanto estava orgulhoso quando  italianos jovens miravam com olhos cheios de cobiça aquele belo bocado de "Xixa" que o acompanhava. A felicidade e o entusiasmo que o Venceslau punha em tudo quanto contava, levou um dos amigos mais atrevido a perguntar-lhe, sobre sexualidade.
Os olhos do Venceslau ficaram mais brilhantes e pareciam que sorriam, tentando explicar detalhadamente que quase fizeram todos os dias.
E em pormenor ia explicando. Como sabem, fomos de avião para Milão, viagem um pouco acidentada pelo medo que tivemos, dado ser a primeira vez. Mas, chegados ao Hotel, comemos comida muito boa, enfia-mo-nos na cama, estávamos um pouco cansados, pois mesmo assim quase que fizemos. No outro dia pela manhã a minha noiva estava fascinante, passeamos por aqui e por ali, vimos museus, a Catedral, de à noite , atirei-me a ela com tanta gana, que quase que fizemos. No outro dia partimos para Veneza.
Que Cidade, que passeio delicioso, andei sempre agarradinho a ela, comemos coisas que jamais esperava e depois quando chegamos ao Hotel, tomei um banhinho com sais cujo cheiro era embriagador, lavou-me as costas, dei-lhe muitos beijinhos e.... quase que fizemos.  Estão a perceber, não estão, quase que fizemos todos os dias.
Um ano depois, quase que fazendo todos os dias, deitou o homem abaixo, finou-se... arranjaram-lhe um buraco ao lado da Maria. A viúva resolveu casar com um moço da sua idade, foram felizes e gastaram o resto das notas saídas à Maria nos dois décimos comprados à porta da C.G. Wicander, a Corticeira Sueca.













34 comentários:

Maria disse...

Resumindo:
O Venceslau foi "quase" feliz, a viúva arranjou outro e gozou as massas.
A única a perder, foi a Maria, que ganhou a lotaria, só foi ao Ginjal e não viu Veneza, por um óculo.
Boa história, amigo Zé.
Beijinho
Maria

Zé do Cão disse...

Ai... Maria

Ao menos coitado, quase que fez todos os dias.
A foto de baixo é a fábrica de
A Sereia - Fabrica de Adubos Orgânicos. Conhecida popularmente pela Brayner. Quando estava de vento de feição, era insuportável o cheirete. Nem sei como aquele gente aguentava aquele peste.

Beijos, amiguinha

rosa-branca disse...

Quase...hehehe...ficou-se pelo quase...quem ficou a ganhar foi a viúva. Adorei a sua história. Beijos com carinho

Mariazita disse...

Zé, meu caro amigo
Uma história deliciosa, que quase nos faz desejar que o Venceslau tivesse ultrapassado o quase :)))))))))))
Mas... guardado está o bocado para quem o há-e comer, e a viúva quase não o deixava arrefecer na tumba :)))) para começar a comer-lhe a herança, ganha pela Maria.

Soube-me bem dar umas risadas, que estão fazendo bastante falta...

BeijOOOcas

Zé do Cão disse...

Rosa Branca

A mulher por quem eu vivo apaixonado, adora Rosas Brancas. Nunca lhe ofereci outras que não fossem brancas.
Pelo menos o Venceslau deu um passeio à Italia para mostrar a noiva aos italianos.
No fundo não foi à Maria que saiu a Sorte Grande. Sempre ouvi dizer que Deus escreve torto por linhas direitas. Teve sorte o Asdrubal, acabou por ficar ao lado da Maria.

Se a Maria soubesse, dava-lhe tantos pontapés até correr com ele dali.
Beijo

Zé do Cão disse...

Mariazita.
Depois de umas ferazitas em que tinha tanta ilusão, (foi chuva, mais chuva e sempre chuva) tinha comprado pelo natal uma maquina fotografica última palavra da Canon, levei-a para estrear e nem a tirei do saco. Ao chegar lembrei-me do meu vizinho Asdrúbal Venceslau.
Teve logo azar à nascença, pois nasceu em casa, como todos na época
mas no meio do cheiro da farinha de peixe.

Beijo, amiga

Elvira Carvalho disse...

Pois pois quase que fizemos, lembrou-me uma história que minha mavó contava de uma viuva rica que em tempos viveu lá nas cercanias de Carvalhais.
Era ela jovem e rica e não querendo estar sózinha resolveu voltar a casar. Dadas as suas condições não faltaram pretendentes. Até de Viseu vieram. Mas a noiva a todos fazia uma única pergunta: "Conhece Vosmecê as fazes da lua?"
Quando o pretendente dizia que sim ela logo o despschava sem apelo nem agravo e ao fim de um ano continuava viúva e não havia mais pretendentes para rejeitar.
Um dia numa taberna em Viseu um forasteiro ouviu contar a história e pensou que se a mulher era bonita e rica como diziam ele ia tentar a sorte.
Quando a viuva lhe fez a tal pergunta ele respondeu que desculpasse a ignorancia mas ele não sabia a resposta. A viuva ficou muito feliz e logo ali combinaram tudo para o casamento que se realizou pouco depois.
Bom depois da primeira noite o noivo ficou com a pulga atrás da orelha. Ele era capaz de jurar que a mulher era virgem. Mas como podia ser se era viuva?
Então no café da manhã perguntou-lhe a razão da pergunta se ele sabia as fases da lua.
E sabe qual foi a resposta?
"É que eu estive casada 5 anos com um homem que dizia que não se podia fazer amor no dia da mudança da lua, nem 4 dias antes, nem 4 dias depois. De modo que entrava lua saía lua e nunca sobrava um dia que estivesse a mais. 5 anos de casada e sempre virgem. Daí a pergunta. Não queria correr o risco de me sair outro igual...

Um abraço e o meu muito obrigada por mais esta excelente história.

Zé do Cão disse...

Elvira
Esta historia sendo verdadeira demonstra afinal a existência de um pobre que em fim de vida foi rico por meia duzia de dias. De uma mulher, companheira do seu marido que rica, não foi rica dia nenhum e duma noiva de ocasião, que do ar veio-lhe cheiro de riqueza, conseguida sem esforço. Mas é a vida e ela é cheia de coisas boas, quando a sabemos gozar.
o meu Abraço boa amiga

Elvira Carvalho disse...

Eu entendi a história amigo. Simplesmente o quase quase lembrou-me a história que a minha avó contava. Provavelmente se ela vivesse mais um tempo não gozaria na mesma a riqueza. Lembrar-se-ia do tempo de miséria e teria sempre receio de gastar o dinheiro. A sgunda não sofreu esse tempo por isso aproveitou tudo o que de bom o dinheiro lhe podia dar.
Por isso o povo costuma dizer, "As primeiras são vassouras, as segundas são senhoras"
Um abraço e bom fim de semana

Zé do Cão disse...

Elvira

É isso mesmo, sem tirar nem por.


Será que oodemos ter um fim de semana descansados, estando todo o povo com a cabeça no cepo?
Bem razão tinha i Pinheiro de Azevedo quando disse que o Povo é Sereno. Até quando, minha amiga, até quando?
Acho que para fim de vida, mereciamos todos melhor sorte.

Abraço, boa amiga

Pascoalita disse...

Ora digam lá se o dinheiro não dá felicidade!!! A pobre Maria, coitada, é que pouco usufruiu ...

A descrição dessa fábrica lembra-me a antiga Petroquímica que em certos dias, com a ajuda do vendo, tornava o ar no bairro dos Olivais, Sacavém e zonas próximas, quase irrespirável.

Cusca Endiabrada disse...

Ora aí está uma história com um "final feliz"

Sortudo, esse Asdrúbal Venceslau hen? mas foi a "lambisgoia" quem teve o maior proveito ihihihih

Eu bem ajoelho e rezo na esperança de encontrar um "pinga amor" com predicados idênticos ao Asdrúval e que "marque o ponto quase todos os dias" ... e desde que tenha a carteira bem recheada, até se pode chamar "carneiro manso", "Inocêncio Coitadinho" ou " João Morrendo das Dores" ihihihih

dentadinhas

Kim disse...

Olá Zezito!
Quase que ... me esquecia das tuas estórias!
Como não podia deixar de ser esta é mais uma das que gostamos, ou seja, mulheres e dinheiro. Só que já estou quase como o Asdrubal. Quase!
Grande abraço amigo

São disse...

RRSS rrsss rrss pois é, meu querido amigo, o quase é que foi uma maçada!!

Um bom domingo te desejo.

Zé do Cão disse...

Pascoalita

O dinheiro não dá felicidade?
Pois não, nem tira as dores, não é?

Mas ajuda muito, não ajuda?

Biquinhos

Zé do Cão disse...

pois, mas ajuda muito, não é?

Como ela tinha dinheiro resolvia a situação se já houvesse o comprimido Azul.
A desproposito. Porque é que a Segurança Social não dá comparticipação na compra desse comprimido?
Não paga abortos? Não paga o comprimido do dia seguinte? Não dá preservativos? não dá lubrificantes para os h...?
Então para ajudar a natalidade, não dá nada e até corta nos abonos!
sabes explicar-me o nunca tinhas pensado nisto?
Biquinhos

Zé do Cão disse...

Minha sirigaita.

Sê esperto e arranja um Venceslau.
Leva-te à China e põe-te os olhos em bico, verás.

Minha querida, Adeus.

Zé do Cão disse...

Kim

Tu queixas-te?

Pois fica sabendo, que eu conheci o Venceslau e o Asdrúbal.
Só nunca lhe mamei um almoço na Floresta do Ginjal. Gostava mais do Grande Elias,galegos simpáticos.
Abraço, Amigo

Zé do Cão disse...

São
Que éramos nós, sem um pouco de humor apintado.
Uns pobres tristes

Beijo

Evanir disse...

Boa Noite..
Gostei muito da historia mais que o dinheiro não é tudo não é mesmo.
Com um porem :ele não compra saúde mais ajuda muito para se ajeitar rsrs.
Beijos no coração.
Saudades de si,
Evanir..

Cusca Endiabrada disse...

Uffa!

O fim de semana tá quase quase quase chegando ...

e aí, talvez eu vá a TROIA e ne cruze com um Asdrúbal ihihihih

dentadinhas

Zé do Cão disse...

Evanir

A porta está sempre aberta, para receber quem vier por bem.

saudações portuguesas

Zé do Cão disse...

Cusca

Não és nada parva, não. Querias um velho rico, para quê? Dávas cabo dele, ficavas com a maçaroca e casavas com um novo, não era.
Ou então com a tua forquilha picavas o "tutu" do velhadas até ele se fazer novo.
Se vieres cá para estes lados, lembra-te de mim e visita-me.
Biquinhos

Zé do Cão disse...

Cusca

Não és nada parva, não. Querias um velho rico, para quê? Dávas cabo dele, ficavas com a maçaroca e casavas com um novo, não era.
Ou então com a tua forquilha picavas o "tutu" do velhadas até ele se fazer novo.
Se vieres cá para estes lados, lembra-te de mim e visita-me.
Biquinhos

Magia da Inês disse...

Ôhhhhhhhh, sorte ingrata, hem!!!!
Pobre não tem vez nem mesmo quando fica rico!!!

Bom fim de semana!

¸.•°`♥✿⊱╮
❤♡
Bom domingo!!!

Beijinhos.
Brasil
°º °♫♫♪¸.•°`

Zé do Cão disse...

Magia

É isso mesmo. Sorte bateu-lhe a porta. Mss o diabo não deixou que entrasse.

Beijinhos

Cusca Endiabrada disse...

Puxa, Zé do canito!!! duas seguidinhas na tua idade, té parece k tiveste ajuda do boticário ihihihih

dentadinhas

Zé do Cão disse...

Cusca
Andas, andas, andas a pedir uns açoites no tu tu.

Biquinhos e toma juizo

BlueShell disse...

"finalmente descobri uma jovem bonita e atraente, que se dispôs a viver com ele, desde que casassem e ele passasse a usar o nome de Venceslau,..." e "quase que me fazias chorar a rir"!

Olha, o problema é que o Gov. quer encerrar os centros Novas Oportunidades, deixando formadores e técnicos (estes com contrato até 2013) na rua! Mais...dixam adultos a meio do processo...e depois? Têm de se deslocar para o que mais perto houver...a 60km de distância, ou mais??? Isto é um absurdo. sempre houve aulas à noite para os adultos e agora acabam com o ensino de adultos?
Cultivar a ileteracia é um "trunfo"! Se não sabe, não opina, não contesta! Isto dá-me nos nervos.
Sou Formadora, sim...mas o meu lugar não está eme risco pois tenho lugar na "minha" escola. É o princípio da "Coisa" que me mete nojo! mais gente para o desemprego, mais adultos sem formação...e conrariamente ao que possas ter ouvido as Novas oportunidades não são uma fraude! Trabalha-se a bom trabalhar--

Abraço E obrigada por tudo. "também vou por as barbas (que não tenho) de molho!"

Zé do Cão disse...

Blue
Ai, meu Deus.
Onde atracará este País. Que cais estará disponível para receber esta barca, ferrugenta e com mais buracos que uma rede de pesca.
Esta cambada que se apossou deste País (fomos nós que deixamos) sem o mínimo de pudor, gente sem vergonha, que diariamente tratam de assuntos ridículos no hemiciclo, reformados cansados, a discutir assuntos de um pobre País que nunca foi rico, mas que o tratam como se o fossem.
divagando
um País sem tropa, compra (impingiram-lhe submarinos) endividaram-se, receberam luvas que estão a bom recato, não têm dinheiro para o gasóleo dos ditos.
Que tristeza, apetece-me morrer e tornar a nascer nos confins do Polo Sul entre os pinguins.
o meu abraço

Parisiense disse...

O Venceslau conheceu bem a Itália e os seus monumentos e "quase" que conhecia a jovem esposa.....hahahhahah

Beijokitas Zé....só tu para nos contar histórias como esta.

AFRICA EM POESIA disse...

linda a tua história

hoje estou...

sem palavras

estive lá....

senti...dor.

beijos

Zé do Cão disse...

Parisiense
O Asdrubal Venceslau, finou-se, ficou sem a fortuna e nicles...

Em contrapartida foi um bom samaritano.
à moda antiga evidentemente
beijokitas

Zé do Cão disse...

Africa em Poesia
São dores que passam, mas ficam raízes e cicatrizes.

melhores dias virão


bj.