31.5.12

Pescaria em Sesimbra

(Clicar no boneco)
Nunca tive apetência para ser caçador nem pescador. No entanto, na caça de "Garinas" não deixei os meus créditos por mãos alheias. Algumas desilusões, e noutras também sofri, mas na pesca fui aquilo que se pode chamar um 0 à esquerda.
Na praia do Meco, onde ás vezes apanhava umas banhocas de sol e espraiava a vista, já que a praia era extensa e bem frequentada por abundantes Garoupas, Sardinhas, Douradas e Xaputas, começaram a aparecer também com frequência Tubarões Martelo, fazendo com que o Zé mudasse de ares, pois a minha especialidade não se compatibilizava com tal espécie.
Passei por isso a frequentar a Capacabana de Sesimbra, que se situava junto à doca e hoje já não existe. Nessa doca os pescadores de fim-de-semana enchiam o paredão com as suas canas vistosas e isso sim, dava gozo ver aquela multidão passar horas e horas a dar banho à minhoca. Aquele gente divertia-se à grande. Quando apanhavam um desgraçadito de um peixe que por lapso ou estupidez ficava preso pela beiça, toda a gente mirava, faz perguntas, tiram fotografias para a prosperidade, enfim... É motivo de festa rija e à noite ao jantar em família, onde contam coisas fabulosos de sereias que viram vir, não das profundezas do oceano, mas estendidas de biquini na areia branquinha da praia.
E são sempre os mesmos, como se tivessem lugar marcado e respeitado pelos seus companheiros de pescaria.
O Sr. Gonçalves já era velhote, apresentava-se com uma cana de pesca já com uns cordeis atados no punho, dado a cortiça já estar partida e as suas finanças ainda não comportarem o preço para a sua substituição. Ia sempre para o fim do molhe, sozinho, e quando os outros pescadores faziam festa ao apanhar em vez de um peixe, uma bota velha, olhava, sorria, mas não arredava o pé daquele sítio. No fundo todos se conheciam, todos eram amigos, mas enquanto alguns à hora do almoço iam pescar a um restaurante uma caldeirada, o Sr. Gonçalves mantinha-se firme no seu posto. Comia umas sandes  que levava no cabaz conjuntamente com os apetrechos da pesca. Por conversas já feitas anteriormente, todos sabiam que o Sr. Gonçalves era solteirão, não queria dar de comer a mulheres( dizia ele), muito poupado e pouco comia para não evacuar. Quando a época acabava, despediam-se dando uns abraços e faziam a promessa de no próximo ano, se encontrarem novamente naquele sítio.
Iniciou-se a nova época de pesca. O pessoal voltou aos seus lugares, tal como fazem as estações do ano. Mas o lugar habitual do Gonçalves estava vazio. Estaria doente, morrido, o "bolinhas" não pegou, foi um rol de preocupações, mas... no Domingo seguinte, quando o pessoal chegou, o lugar do Gonçalves estava ocupado, por alguém que usava um banquinho de madeira, tinha um chapéu de palha em vez de um boné como habitualmente  usava o Sr. Gonçalves. E, mais, uma mulher entrada na idade, acompanhava aquele novo pescador.  Já o Sol estava a pique, quando entre os outros pescadores um chama a atenção para o facto daquela figura desconhecida parecer o Sr. Gonçalves. Aproximam-se e confirmam que era mesmo o seu amigo de vários anos e companheiro domingueiro. Afinal a diferença principal entre outras de menos monta era a presença da senhora. Os pescadores, dando os bons dias, confessam estar preocupados, pois estavam confusos, dado a indumentária e a companhia que trazia, porque isso contrariava as suas afirmações anteriores. E o Sr. Gonçalves, dá-lhes a notícia que os deixou boquiabertos. Casei!...
Estupefactos, dando um sorriso, não se inibem e fazem a conversa, de que, com certeza ter havido um motivo muito válido para tomar aquela decisão, esclarecendo-os o Sr. Gonçalves, de que tinha sido um casamento de conveniência.
A Senhora mantinha-se sentada, como se estivesse alheia à "conversura", metendo um bifito no interior de um papo-seco, parte do almoço que tinha arranjado para os dois.
Mas a malta não desiste de continuar a conversa e um mais atrevido, dispara. Logo vi, o Sr. Gonçalves não era homem para dar ponto sem nó. Cheirou-lhe a massa, não? Ora, ora, todos temos muita cantiga, mas sempre caímos que nem patos, mas pelos vistos ela tem lago para eles se banharem, não é?
O Sr. Gonçalves, sentado no banquito de madeira, recostasse contra o paredão, com o dedo indicador da mão direita dá um pequeno toque na aba do chapéu de palha, a esquerda segura a cana, cuja ponta está dentro de água, recebe a sandes que a mulher lhe acaba de entregar, ferra dentada e entre o mastigar e engolir, confessa aos seus amigos a razão de se consorciar.
Aqui a minha Maria, já é velhota, eu sou um amante da pesca. Sabem que a vida está má e a minhoca cada vez mais cara. Fiz contas à vida e achei por bem casar. É que ela tem lombrigas em abundância e eu em vez de gastar dinheiro, uso-as em substituição das minhocas. para pescar.
A arte e o engenho andam sempre de mãos dadas, não acham...

37 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Ehehehe! Apanhou-me. Confesso que já lhe apanhei o jeito nas histórias e quando chego aio meio já sei o que daí vai sair. Mas desta moita não saiu o coelho que eu esperava...rsrsrs. Fartei-me de rir.
Um abraço e bom fim de semana

rosa-branca disse...

Olá amigo, então não é que o final da história não lembra nem ao diabo? Caramba! Quanta imaginação. Tal como a amiga Elvira, também me fartei de rir. Adorei a história meu amigo. Beijos com carinho

La Gata Coqueta disse...



He descolgado un trocito de cielo
Para que al mírate en su espejo
Sea la felicidad la sonrisa de tu reflejo.

Buen fin de semana
Sin distanciarse del optimismo
Ni asociarse con el pesimismo.

Un abrazo para saludarte
Y un beso para despedirte

María del Carmen


Pascoalita disse...

Ora ora Amigo Zezito, não sejas tão modesto ...

Eu acho que tens êxito em todas as áreas a que te proponhas, só que no que respeita ao "pescado", és muito selectivo, o que é compreensível:

Dos tubarões martelo, fojes como o diabo da cruz ahahah

Mas agora fiquei a sismar numa coisa: Terá sido o "isco do Sr. Gonçalves", fornecido pela sua Maria, que tornou o peixe de Sesimbra tão famoso?

Bom fim de semana eheheh


jinhos

Magia da Inês disse...

¸.•°`♥✿⊱╮
❤♡

Cruz credo!!!!!

Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil.
°º °♫♫♪¸.•°`

Verdinha disse...

Há sempre uma razão para casar, agora esta das lombrigas, nem eu imaginava, até achava que podia afastar um noivo...
Meu caro amigo, é sempre um prazer ler as tuas histórias !
Guarda algumas para o nosso próximo encontro...
Beijinhos amigos
Verdinha

Maria disse...

Amigo Zé:
A história tem barbas, mas faz rir.
Beijinho
Maria

Cusca Endiabrada disse...

Bem dizia o meu avozinho "neste mundo, nada se perde; tudo se transforma! E também me ensinou que o que não mata, engorda eheheh

Também ouço desde menina que até o "negócio de cascas de alho" dá lucro! Se fosse hoje, decerto o Sr. Gonçalves abriria a primeira "loja de isco lombrigueiro" com a "matéria prima" da Maria e seria bem lucrativo ihihihih

As coisas que se aprendem com o Zé do Canito ...

dentadinhas

Kim disse...

Pequeno-Grande Zé!
Continuas refinado nas tuas crónicas.
Não gosto de minhocas, como também não gosto de tudo o que é rastejante. Mas adoro Sesimbra e a suas sardinhas..
E o teu périplo pelas capelinhas, como vai?
Grande abraço

La Gata Coqueta disse...



Cuando paso a visitarte me crezco con los textos encontrados, que son el archivo de las vivencias, poesías o momentos de un trayecto de vida, que con ayuda del recuerdo han regresado al presente recobrando protagonismo.

Siendo hoy uno de esos momentos, que cuando me valla, me llevaré ese buen sabor en la comisura de los labios, porque has sabido aderezarlos con la textura de las palabras…

Un feliz viernes ya casi fin de semana te deseo, algo que siempre se espera con ansiedad para dedicárselo a diferentes prioridades que se van posponiendo.

Un beso tan profundo
Como el sentimiento
Del aprecio
Que nos ha unido.
María del Carmen



São disse...

Aghhh!!!

Beijinhos, meu querido amigo.

Cusca Endiabrada disse...

Hellooooooooo

Ó da casaaaaaaaaaaa

Hummm cá pra mim o Zé do canito foi à pesca ou terá sido aos gambozinos ihihihih

dentadinhas

Zé do Cão disse...

Elvira
uns dias para esquecer as agruras do nosso País, sabe sempre bem. Afinal lá está como cá, mas com mais salero, sem no entanto, se ouvir as castanholas.
Vamos pois voltar ao trabalho...
Abraço

Zé do Cão disse...

Rosa Branca

Minha amiga, o humor cura muitas doenças, dizem. Espero contribuir para isso.

Beijos

Zé do Cão disse...

Gatinha coqueta
Maria del Carmen.

Estive em Sanxenxo, gozando o bonito sol que lá há e umas chuvadas no lombo também apanhei.
Almocei em Combarro e lanchei no mesmo dia em Cambados. Aquelas rias são a minha perdição.

Beijos

Zé do Cão disse...

Pascoalita

ahahah... Estive em Cambados e passei por Castrelo.
Almocei em Combarro, um autentico desastre. Apanhei chuva, sol, calor e frio. Estive com o meu amigo Besada na ria de Arosa, dei uma volta na cabina do Barco, na apreciação das ostras, vieiras e mexilhões, comi lavagentes e santolas. Enfim... Vim teso que nem um carapau seco, daqueles que o Gonçalves apanhava ma pesca do paredão da doca de Sesimbra.
Biquinhos

Zé do Cão disse...

Magia

Encontrei em Sanxenxo um camareiro no bar "Sebastião del Cano" que é de Minas Gerais.
Já lá estava no ano passado.
Tens de arranjar maneira de comer sardinhas frescas...

Zé do Cão disse...

Maria

As barbas, serão tão antigas como as helmintas...

Beijos

foi bom uns dias nos Algarves?

Zé do Cão disse...

Cusca

Estou sempre ansioso pelos teus comentários.
Biquinhos

Zé do Cão disse...

Kim

Este ano pelo Santo António, nem provei uma sardanisca. Nicles, nada.
Na Galiza, isso sim, provei e detestei, devolvi e comi um arroz de
qualquer coisa.
Quando comemos uma sardinhada, já que parece que o seu sabor voltou a ser o antigo?
Abraço

Zé do Cão disse...

Coqueta

Viernes passado, encontrava-me dentro de um barco a caminho de Padron, a terra dos pimentos, em que uns son picantes e outros non.
Sabes, já tenho saudades de Ribadeselhe, de Cova Donga...

Zé do Cão disse...

Coqueta

Descansar? Sempre estamos ligados por alma e coração aos amigos.

Que retemperes, que voltes com força e Gana...
Abraço

Zé do Cão disse...

São

Acabou o que era doce... Tudo tem um fim. Excepto as Salsichas e as minhocas que têm dois.

Já estou a pensar que para o proximo mês, estarei fora mais 15 dias. Tarragona espera-me e a Manta Rota também.
Estou a preparar um texto sobre CATOIRA na Galiza, "Pueblo" a fazer parte dos Caminhos de Santiago, mas por via marítima.

Um beijo, grande amigo

Zé do Cão disse...

Cusca

É isso mesmo ando aos gambozinos.

Mas podes ter a certeza, a maioria dos portugueses andam aos gambozinos.

Um biquinho grande para ti, minha pequena querida. Tenho-te sempre em primeiro plano.

Zé do Cão disse...

VERDINHA

Claro que guardarei algumas para o próximo encontro.
Em épocas de crise elas, as historias, nascem por todos os lados, e creio que nem os Reis conseguiam tantas, como este povo anónimo e teso do Portugal desconhecido.


Beijos

Pascoalita disse...

Aleluia! Temos o Zezito de volta e eu já ansiosa por ler mais aventuras fresquinhas ou mesma daquelas que já têm pêlo e teias de aranha ahahah

E a propósito de pescado, tenho a dizer que hoje fui surpreendida com uma sardinhada de fazer crescer água na boca! A sério, há anos que aqui em casa a época da sardinha assada só começa depois da despedida de S. Pedro, portanto no fim de Junho(Em Maio e Junho grelhamos petinga)

Hoje, o meu hortelão, foi à feira da Malveira e, embora desconfiado, não resistiu a trazer sardinha.

E não é que estava óptima, fazendo lembrar tempos passados? Até parece milagre de Santo António!!!

Mas uma notícia me preocupa: A CRISE JÁCHEGOU À SARDINHA! Um misterioso parasita tem atacado os cardumes na costa Portuguesa e espanhola, e receio por esta fonte de alimento do povo.

Sê bem revindo, AMIGÃO!!!

Um beijo

Anónimo disse...

História gira e muito bem contada.
Fui apanhado, a ler a história passada aqui em Sesimbra e a pensar se não teria já visto essa figura a pescar no Porto de Abrigo :)
Quanto às pescarias que ali se faziam, na maior parte das vezes eram cavalas, safias e bogas, se alguém apanhava um sarguito ou um robalinho já era uma festa.

Zé do Cão disse...

Pascoalita

Estou completamente vazio, nãso textos de momento e nem recordo nada.
Será que acabaram as minhas aventuras
só falta a ultima, que terá de ser contada por outro.
Para já, vou pensa no assunto, e talvez me dedique à pesca sem usar as helmintas.
Quanto às sardinhas, aqui em Portugal inaugurei hoje a época e ao jantar, contra o meu costume.
Começa sempre mais cedo e ao almoço.
Amanhã, vou à terra dos meus pais almoçar com o meu irmão...
Um biquinho, amiga

Zé do Cão disse...

anónimo

conheço Sesimbra ainda antes dos esgotos serem desviados do mar.
Nessa época, na praia junto à fortaleza e onde faziam a lota mais linda de Portugal, também se pescava coisas esquisitas e de que maneira.
As vagas, os "vagalhões" batiam contra as paredes dos barcos que descarregavam o peixe espada, os pargos os imperadores e nem era necessário as canas, os anzois nem as helmintas.
O meu Abraço e volte sempre.

Magia da Inês disse...

°`♥✿✿⊱╮
♡¸¸.•
Oh Zé... um novo post por favor!
Boa semana!
Beijinhos.
Brasil
¸.•°`❤✿⊱╮

rosa-branca disse...

Olá amigo Zé, ainda com a lombriga de molho? Passei para ver se havia mais peixe, mas como não há comi do mesmo. É sempre agradável reler as suas histórias. Obrigado pelo se carinho no meu canto. Beijos com carinho

São disse...

Meu amigo querido, que tenhas felizes dias e bem aproveitados!

Um abraço cheio de amizade

Anónimo disse...

Certamente cá passarei mais vezes!
Os peixes de que falei são mesmo comuns no Porto de Abrigo. Na praia ainda vão aparecendo alguns peixinhos bem bons, douradas, robalinhos, sargos, e besugos (massacotes). Tem agora aparecido mais peixe, bailas e ferreiras ! Talvez pelo parque marinho, ou pelo meu optimismo mas parece mesmo que está a haver mais peixe :)
abraço,
João

Zé do Cão disse...

Magia

Estou um pouco preguiçoso para escrever.
Vou ganhar coragem...

beijo

Zé do Cão disse...

Rosa Branca

a vida está má e isso preocupa-me.
Vou ganhar alento...

beijo

Zé do Cão disse...

Saozinha

Talvez vá dar uma volta até Amesterdão e assista ao Benfica-Real Madrid dos 5/3 em 1962.

Beijo, amigona

Zé do Cão disse...

Anónimo

Falar de Sesimbra é lembrar tempos antigos passados junto da Fortaleza.

Abraço