
Não sei se por aqui já disse que também fui campista. Também fui campista,e cheguei mesmo a ser dirigente da Federação Portuguesa de Campismo, isto lá pelos anos de 71/74. Que belos momentos de convívio e que conhecimentos adquiri do Portugal interior.
Iniciei-o de tenda, tendo mais tarde passado para caravana, o que ocasionou um campismo mais confortável, mas também mais sedentário . Veio a época das mordomias, do cadeirão à sombra, da "bejeca" acompanhada de "alcagoitas", das "almoçaradas" com amigos, mas também do calção e tronco nu por todo o dia e a possibilidade de ensinar aos "catráios" como se apanham grilos no campo, coisa que vivendo na cidade não é possível.
No Alto Minho acampei no Parque de Campismo da Orbitur e um dos meus "pequerruchos" no escorrega do parque infantil, caiu e partiu uma clavícula, por aquele estar votado ao abandono. Por esse motivo procurei outro local e encontrei-o em Vilar de Mouros, bem perto onde se realizava o festival de Rock. As suas sombras eram parreiras, tinha um tanque a servir de piscina, um bar agradável e uma casinha de alvenaria, coisa pequena, só com um quarto uma cozinha e casa de banho muito bem apetrechada, amorosa para passar uns fins de semana
ou acolher por uma semana uns recém casados. Para esses casos a Administração mandava colocar uma garrafa de espumante e bombons.
Eis que um dia, por volta de 1986, uma americana de nome Ellem Mccarthy e seu companheiro,chegam ao Parque de Campismo, fazendo-se transportar de bicicleta, em viagem que tinha tido o seu inicio na Holanda. Ficam lá por uns dias, conhecem o local, a região, a Serra d'Arga, o dono do Parque possuidor também de um "turismo Habitação" ali em paredes meias (Lanhelas), onde todos os sábados havia folclore minhoto, e apaixonou-se por tudo aquilo. Numa conversa fugaz com o dono do parque confessasse apaixonada por tudo quanto os seus olhos viam e pergunta-lhe se um dia voltasse, lhe daria emprego. Era conhecedora de dez idiomas, mas nada conhecia de português... Era uma "brasa", bonita, vinte e poucos anos, irradiava simpatia e tinha um corpo de mulheraça. O empresário para lhe ser simpático disse que sim, pois sabia que eles tinham a tralha pronta para a partida e portanto seria pessoa que não iria ver mais. Foi um acontecimento no parque e toda a gente se despediu daqueles dois jovens aventureiros, que iriam terminar a sua viagem nas Canárias, depois de apanharem o barco em Málaga.
E pronto, a coisa entrou no esquecimento dos que ficaram e o parque voltou ao mesmo "rongue" "rongue" de sempre.
Mas aquela jovem, levava o coração despedaçado pelas saudades de tudo quanto viram os seus olhos encantadores, e não lhe saía da cabeça os traços de uns cabelos brancos, misturados com negros, daquele homem que lhe prometera emprego, se um dia voltasse.
Dois meses e meio depois, a um fim de tarde, a Ellen voltou, afogueada cansada e desejosa de cair nos braços do Germano. Aquela mulher apaixonada pelo Alto Minho, meteu no Puerto de Las Palmas em Gran Canária o seu companheiro de viagem num barco com destino aos "States", enquanto ela regressava a Málaga no mesmo "buque" que a tinha levado. De Málaga, de bicicleta e sozinha segue a Sevilha, passa por Huelva e entre em Portugal por Vila Real de Santos António, sobe todo o Portugal e só parou em Vilar de Mouros, local onde se encontrava a sua paixão.
Toma as rédeas do Parque, aprende português, não o vernáculo, mas o suficiente para dar aulasde português a crianças holandesas que moravam na região, passa a vestir-se de minhota, muito especial as da Serra d'Arga, organiza excursões com os turistas utilizadores do parque de campismo, com almoços de pic-mic em pleno campo. A transformação foi enorme, a vida, a garra,
que aquela mulher impunha em tudo quanto mexia, obrigava os outros empregados também
a cumprirem com mais zelo os seus deveres. Tudo era preparado com princípio meio e fim e o Germano, juntando o útil ao agradável regozijava com o êxito nos seus negócios que cresciam a olhos vistos.
Só a mulher do Germano, sentia por vezes um zumbido na cabeça, que lhe pesava como chumbo e a que não estava habituada. Procurou um médico, que em vez de lhe receitar remédio para a maleita, recomendou-lhe o apanhar os ares do campo, muito especial os do Parque de Campismo, aconselhando-a mesmo a acompanhar a empregada "Americana" nas sessões matinais de ginástica que esta todos os dias fazia, à vista de todos os campistas e em pleno parque.
Ela bem pensou no caso, mas como as referidas dores não a largavam ficava sempre um pouco até mais tarde deitada. Começou a reparar que o marido também todos os dias assim que se levantava e em pleno quarto e de cuecas, daquelas de meia perna de popline às riscas, passou a também a fazer ginástica, diga-se rudimentar. Dizia ele, que estava a enferrujar e necessitava de estar em forma pois ia perdendo alguma mobilidade. Pudera, aquilo era demais para o andamento a que estava acostumado.
E não querem saber vocês, que a dor de cabeça da esposa do Germano passou imediatamentea partir do dia em que a Ellen Mccarthy partiu, não de bicicleta mas num furgão Hanomag "grenát" a acompanhar um suíço da mesma sua idade, que por lá acampou dois dias, e sem dizer adeus ao seu patrão e amigo.
Todos os colegas ficaram com lágrimas nos olhos ao ver a sua partida, e enquanto a esposa do Germano se viu livre de vez daquela horrível dor de cabeça, o marido andou muitos meses com tremenda enxaqueca.