6.1.12

Tempo de Chuva


Estava entretido a preparar o texto para apresentar neste blogue, quando pela madrugada oiço um programa de rádio, que me fez lembrar esta situação, que pela sua graça e desespero do meu progenitor não posso deixar de contar.
Em 1942 a II Grande Guerra Mundial ainda não tinha terminado, os plásticos também ainda não tinham aparecido, e a televisão nem sequer era uma miragem, as novidades estavam em baixo e sobre a última moda, o "cabecinha pensador" estava atrasado. Os alemães da "Gestapo", usavam umas gabardinas com sinto pela cintura e nos filmes de guerra que nos apresentavam eles eram o terror das populações dos Países ocupados.
O Zé tinha acabado a 4ª classe, foi matriculado na Escola Comercial de Veiga Beirão, situado no Largo do Carmo, bem perto da GNR, separado apenas pelas Ruínas do Convento do Carmo, da linha do eléctrico que iniciava ali uma carreira, no acesso a0 ascensor de Santa Justa. Ainda recordo o preço do bilhete para utilizar o ascensor $10. Como o meu percurso seria, Cais do Sodré, rua do Alecrim, Largo Camões, Largo Trindade Coelho, largo do Carmo, usava-o pouco. Para vir à baixa, descia a Calçada do Sacramento e poupava um "tostão" que não tinha.
O início das aulas era em sete de Outubro, pelo que uma semana antes, meu pai leva-me à cidade para comprar um casaco de forma a apresentar-me com a dignidade que o acto merecia.
Estão a pensar onde teria ido comprar o casaco, já que as casas de pronto a vestir ainda não tinham abertas as suas portas? Pois enganem-se meus amigos/as, em Lisboa já havia casas de pronto a vestir, especialmente no Largo de S. Paulo. Ali havia centenas de casacos pendurados nas ombreiras das portas e nos seus interiores.
"Prontos a despir" também havia muitas, bem perto por sinal, na rua da Boavista e se, se apanhasse o elevador da Bica, chegávamos rapidamente ao Bairro Alto onde o negócio do "pronto a despir" era próspero e de preços variados para todas as bolsas. « são outras histórias em que o Zé se viu envolvido e a contar oportunamente».
Meu pai trata de escolher o estabelecimento habitual fornecedor da nossa casa "real". Experimentei três ou quatro casacos, foi acertado o preço e regressamos ao palácio, felizes e contentes com a compra que foi efectuada.
Iniciam-se as aulas e o Zé garboso de calção e com o seu novo casaco, marchou a caminhos de novos horizontes. Mas o Outubro, é traiçoeiro, tanto faz frio, calor, sol ou chuva e dois dias depois de ter estreado a "farpela nova" chove torrencialmente. Qual quê? O Zé tem lá medo da chuva e como nunca foi moço de ficar incomodado com um pingo de água pelas costas abaixo, mete-se a caminho. Quando entrou na camioneta que de Cacilhas o levada de regresso a casa, parecia aquilo a que se chama, depois de uma boa molha "Um Pinto". Entro em casa, e a mãe Júlia, quando olhou para o menino dos seus olhos, pergunta. Zé que te aconteceu às mangas do casaco? Meu Deus, que triste figura. O forro chegava até ás mãos, mas a fazenda das mangas pouco passavam dos cotovelos. Senti dificuldades ao despir e em baixo nas costas o forro também estava maior do que o casaco. Tudo tinha encolhido com a água da chuva.
À noite, o meu pai ficou desesperado e logo ali resolveu ir comigo no outro dia discutir a situação, porque teriam que me dar outro casaco, segundo a sua opinião.
Ele bem barafustou com o comerciante, mas este disse-lhe assim. Então o rapaz andou à chuva!
Mas então para que lhe comprei eu o casaco, retorquiu, meu pai. O casaco comprou o senhor, para o moço se proteger do frio, porque para a chuva temos nós aqui inúmeras gabardinas.
Tudo fica bem, quando acaba em bem. Desataram os dois a rir e eu a ver que não tinha o problema resolvido, ficava sem o casaco e sem uma gabardina tipo "gestapo". Afinal a casa fez um desconto e o Zé em novo dia de chuva estreou também uma gabardina impermeável.

26 comentários:

São disse...

rrsss rrsss Ainda bem que ao teu sentido de humor nada encolhe, rrss

Convido-te a ires até RETales Visuales ver e comentar Chuva Sobre a Paisagem.

Um abraço com saudades.

Maria disse...

Se fosse agora, ias ao chinês e compravas um belo kispo que, te agasalharia do frio e do frio.
Beijinho
Maria

Pascoalita disse...

ahahahah

Grande aventura, hen?

Hummm eu cá acho que a chuvada veio mesmo a calhar para ganhares a tal "gabardine à gestapo" eheheh

A mãe Julia deve ter ficado confusa ... o casaco tinha mirrado ou o seu pimpolho espigara ??? ahahah

Hoje tudo encolhe, começando pelos EUROS! De resto é tudo sintético e descartável, incluindo nós :(

jinhos

Mariazita disse...

Olá, Zé
Tá tudo bem contigo? Não te tenho visto...espero que não estejas doente.
Achei a tua história muito engraçada. O comerciante tinha razão, os casacos não eram para a chuva...
Tempos em que tudo encolhia, até os casacos de fazenda -:)))

Continuação de um feliz 2012, para ti e tua dona - e toda a família, claro!

Beijinhos

Dona Sra. Urtigão disse...

Boas historias...

Cusca Endiabrada disse...

E foi assim que o Zezito aprendeu a "lógica da batata ... então não era suposto que a "rega fizesse crescer?"

E afinal já não é de hoje que as coisas "mirram" ... e algumas mirram tanto que somem (claro que tou a pensar no dinheiro dos pobres, ou pensavas em quê? hummm cabecinha maldosa ihihihih)

dentadinhas

Kim disse...

Zezito
Deus escreve direito por linhas tortas. Já viste bem os problemas que podias ter com uma gabardina tipo Gestapo?
Lá ia o pessoal pensar que tinhas conotações nazis e daí até levares umas arrochadas ia apenas um passo.
Fico agora à espera do pronto a despir, bem mais cpmprometedor.
Grande abraço para ti amigo.

Pascoalita disse...

Sortudo! Sabes o que usava eu e todods os miúddos da aldeia qdo chovia durante o percurso casa/escola? Um plástico que só nos tapava a cabeça, porque nesse tempo nem os adultos tinham "guarda-chuva". Cobriam-se com uma saca de sarapilheira, para ficarem com as mãos livres e continuar o árduo trabalho no campo.

Pensando melhor, estas recordações ajudam a suavisar a actual crise eheheh


jinhos

Zé do Cão disse...

São

O Humor anda cá. mas a desorientação também.

Agora iremos colocar à prova a roupa dos chineses.

Jinohs

Zé do Cão disse...

Maria

é bem verdade o que dizes.

Os chinócas têm de tudo. Até fogareiros a Petróleo como os do Hipólito.

Não estivemos tantos anos em Macau?
Agora estão cá eles.
O Mundo girou...só não sei se a cima nesta altura está por cima ou por baixo.
binhos

Zé do Cão disse...

Pascoalita

Grande aventura, não foi.
E a partir daqui,sentia Lisboa a meus pés. Fiz tantas malandrices.
Dentro do possível irei contando.

biquinhos

Zé do Cão disse...

Mariazita

Não estou nada ausente, estou é carente. Ando numa roda viva, daqui para ali e dali para aqui a tratar de coisas inadiáveis.
É conservatórias, é finanças, é tribunais é notários..enfim... nunca esperei que ser herdeiro de uma "trampa" desse tanto trabalho. E ainda por cima, diz-se...com o olho no burro e outro no cigano. E não é que até a ciganagem se preparava para também serem herdeiros e sem terem qualquer trabalho.
Eu vivo num País de loucos.

Beijinhos

Zé do Cão disse...

Dnª Srª Urtigão

Não tem nada a ver com o Ramalho, pois não?

Bem vinda.. a esta casa, onde o Zé tem sempre um Moscatel à mão pronto, para oferecer aos amigos.
Digo-lhe, que tenho um de passas, de cair de costas...

abraço

Zé do Cão disse...

cusca

Também estás sem emprego, ou ainda andas a estudar.

Qualndo chegar à altura de apanhar os Morangos, contrato-te. Já os vejo pequenitos.

biquinhos

Zé do Cão disse...

Kim

Já estás com o fogo no rabo para leres a histórias do Pronto a Despir.

Garanto-te que nem necessito de colocar a rodinha vermelha no lado direito em cima.

Abraço

Zé do Cão disse...

Pascoalita

essa era a farpela que usavam os estivadores e carregadores das camionetas.

Belos Tempos em comparação com os de agora.

biquinhos

Pascoalita disse...

Já lia história nova ...

Oh! A minha "praia" que é como quem diz "o meu jogo do Facebook" está off há horas (dizem que está em manutenção eheheh) e resolvi fazer uma ronda por aqui.

O puto do chapéu é castiço ahahah

Boa semana ... de trabalho ou lazer

jinhos

BlueShell disse...

O menino molhou-se e a "coisa" encolheu (acontece frequentemente) ...estava mesmo a verse...era para tolher do frio, não da chuva...LOL...mas pronto, ao menos a gabardine à moda da "Gestapo"!
GOSTEI, meu bom amigo, gostei. São estas coisitas que fazem parte do ser que nos define "Hoje"!

Beijo
BShll

Elvira Carvalho disse...

Que delicia estas suas memórias. Adorei.
Um abraço e um ano 2012 com muita saúde.

Magia da Inês disse...

Oi, Zé!
Ainda bem que tudo acabou em gargalhadas... aqui dizemos: "tudo acabou em pizza".
Boa semana, amigo!
Beijinhos.
Brasil°º♫
°º✿
º° ✿♥ ♫° ·.
✿⊱╮

Zé do Cão disse...

Pascoalita

As semanas de lazer já se foram,.


Agora, é pegar no trabalho, no duro que o corpo aguente já que a estive está de greve.

Biquinhos

Zé do Cão disse...

Blue

Pois presumivelmente está explicada porque no mar, só de barbatanas, óculos e respirador de mergulho.
Mas estou pensando deixar essas práticas, pois até no Mediterrâneo já acho a água fria.

beijo Zé

Zé do Cão disse...

Elvira

obrigado por tudo, e oxalá a saúde não me largue.

Porque a taxas moderadores esvaziam a carteira aos não isentos.

O meu afectuoso abraço

Zé do Cão disse...

Magia Olá moreninha da terra do Samba.

Naquele tempo a"pizza" tinha sido acabado de ser inventar na Italia.
As famílias italianas tinham de inventar alguma coisa para matar a fome durante a guerra mundial e então fizeram aquele prato de massa que levava qualquer coisa. Daí a "Pizza".
Será por isso que não gosto dela?
Beijinhos

São disse...

Então, meu amigo? E mais estórias deliciosas?

"Bejinhos"

Zé do Cão disse...

São

algumas andam no meu cérebro em turbilhão. Depois esquecem-me (ai esta "mona" já não é o que era)

mas faço-te a vontade em breve

jinhos