
Sorte nos amores, pouca sorte no jogo. Este é um provérbio que nem sempre bate certo.
Cá o Zé, na sua juventude, apanhou resmas de "tampas" e muitos "borrachos", não daqueles que nos amachucam o "toutiço", mas daqueles de lindas pernas e corpos tentadores, aliados a carinhas "larocas" que arrebatavam corações e me faziam gastar muitas solas de sapatos.
Jogo nunca foi o meu forte, passo ao lado dele, não sou frequentador habitual de casinos, tenho horror às máquinas de moedas e até nos parqueamentos para automóveis sinto repulsa quando sou obrigado a meter uma moeda que raramente tenho. Todavia, afirmar que nunca joguei, mentia a todos vós, pois à vezes passando-me a "negra" pela "tola" sempre arrisco alguma coisa, e...
Certa vez, comprei uma rifa para ajudar os festejos na minha aldeia. O prémio era um cabrito assado no forno de padeiro, metido num enorme recipiente de barro. Não cheguei a saber qual foi o processo do sorteio. Sei, sim, que estava ausente e que a sorte me bateu à porta para me entregarem o almejado prémio. Como não estava, os fulanos da comissão de festas, todos meus amigos, chamaram-lhe um "figo" e nem sequer me disseram de quem era o canito que roeu os ossos. Entregaram-me valha-nos isso, a assadeira de barro devidamente lavada.
Outra vez na rua da Prata, à porta do oculista "Rodrigues" acompanhado de um amigo e sofrendo a sua influência comprei uma cautela, cujo numero era igual ao que ele adquiriu. Duas ou três semanas depois, o amigo diz-me que nos tinha batido a sorte à porta, cabendo a cada cautela 20.000$00 (vinte mil escudos). Com cautela, perguntei à «Dona» se tinha vista a dita no bolso da camisa. Respondeu-me que não é seu hábito retirar dos bolsos o que lá está. Como a camisa tinha sido lavada, lá estavam aqueles restos de papel, que me dariam a felicidade de sem trabalho ter ganho aquela pequena fortuna.
Mais tarde quando apareceram as raspadinhas, entrei numa loja de um pequeno Centro comercial na Cidade dos Arcebispos, e vi dois senhores que com ganância raspavam sem cessar um montão daquelas, no intuito de ganhar algum prémio chorudo. Fui tentado e adquiri duas. A primeira não bateu certo, mas na segunda rejubilei, tinha acabado de ganhar 10.000$00. Quis logo ali receber, mas informaram-me que só o podia fazer com identificação e na Caixa Geral de Depósitos. Arrumei as minhas coisas e quando saía a empregada perguntou-me. Não quer jogar mais? Ao que respondi. O prémio saiu-me a mim. Poucos dias depois num outro estabelecimento repetiu-se a cena. Afinal, sempre era um homem com alguma sorte.
----Até que um dia, levantei-me, preparei-me e dei um salto à Capital. Preenchi um boletim, com cruzinhas e estrelas, quanto foi não recordo, não poderia ser muito, dado ter pouco dinheiro. Vinte e quatro horas depois, encontrava-me na rua do Amparo, entre o Rossio e a Praça da Figueira, na casa Campeão a encher uma mala "tipo James Bond", com largos milhares de Euros.
Além da mala, enchi os bolsos e corri a apanhar transporte para casa. Antes porém, dobrei uma nota de 20 euros, fazendo um biquinho e ornamentei o bolso pequenito do meu casaco, sobre o coração.Em casa guardei o meu segredo, não contando nada a ninguém, meti a mala no armário do costume e deitei-me mesmo sem ter jantado.
Pela manhã, acordei, esfreguei os olhos, levantei-me e corri para a mala. Lá estava ela, bem arrumadinha pelas minhas mãos, peguei-a e achei-a leve de mais, abria-a e todo o dinheiro que lá tinha metido tinha desaparecido como por encanto.
Mas também naquele momento o meu encanto dissipou-se, tudo não tinha passado de um sonho, que só me deu felicidade enquanto estive deitado de olhos fechados.
Com o voltar à terra a CRISE TINHA VOLTADO.