15.7.12

Os Prazeres da Macrobiótica



Fui sócio de uma empresa que tinha a sua sede e escritórios na Praça da Alegria, em Lisboa., mesmo por cima do Maxime.
Predominava empregadas todas dedicadas e a merecerem notas altas, quando se tratavam de ser apreciadas na execução ou desempenho do seu trabalho.
Faziam parte do povo trabalhador que lutava no dia-a-dia para o sustento da família.
Uma delas, parece que a vejo, com o cabelo louro natural e canudos caídos, alta, almoçava em restaurante macrobiótica, ali para os lados da Duque de Palmela.  Mostrei interesse em conhecer o restaurante e a moça não se fez rogada, convidando-me para  almoçar com ela. Perguntei como era o  restaurante,  o tipo de gente que o frequantava, a comida, e estava a chegar à conclusão de que não ia gostar. Mas com aquela companhia, simpática e atraente, ia fazer como S. Tomé "ver para crer".
Mas o  "Demo" que tantas vezes me tem saído ao caminho, desfez tudo num minuto daquela manhã de  quinta-feira, fria e ventosa do mês de Abril de ano que não recordo (finais da década de 70, talvez ano 79).
Um dos meus sócios, pede-me para o acompanhar na busca de um cliente caloteiro e "vigaro", lá para os lados da Cidadela em Cascais.  Pelo caminho contei-lhe que tinha combinado um almoço em macrobiótica com a Laura nossa empregada e agudizei-lhe o gosto, tendo-me convidado para jantar nesse mesmo dia num restaurante desses, mas fazendo-me lembrar que não se estava a substituir à elegante Laura. Rimos, e ficamos combinados que ao jantar iria-mos dar estreia e iniciação naquela comida.
O "aldrabófio" do caloteiro, como uma enguia, escorregava-nos pelas mãos e já eram 21 horas, ainda não tínhamos conseguido falar com ele. Esteve sempre perto, nas quando chegávamos a um sítio, já tinha saído para outro e tal Tom e Jerry, dos desenhos da Disney, de toca em toca, escapou sempre ao nosso encontro.
O frio apertava e o vento atirava rua fora os caixotes do lixo. Voltamos para Lisboa de mãos a abanar, mas como o estômago  não se compadece com desaires, por isto e aquilo, mais ou menos transito, estacionamos pelas imediações da rua da Boavista, omde se situava o restaurante que tínhamos escolhido. Corremos apressadamente, o vento batia-nos nas costas como se tentasse ajudar-nos a chegar à casa de Pasto. O prédio era velhíssimo, não tinha luz nas escadas ou nós não sabíamos onde estavam os interruptores.  Aos apalpões subimos até ao primeiro andar e demos com a porta fechada. Batemos, demoraram a abrir, e foi a cozinheira que a fez. Não tinha apreciado ainda bem o nosso aspecto, mas o que estava vendo
não me deixou aterrorizado, mas uma vontade de rir apoderou-se de mim. É que, a figura que nos abriu a porta tinha na cabeça uma touca de cozinheira, uma bata vestida, que 8 dias antes talvez fosse branca e  o seu olho  direito era vesgo.  Não nos deixando entrar, esclareceu-nos que a casa fechava às 22 horas e já passavam 10 minutos. Estava eu a tentar dar-lhe a volta para que nos servissem, eis que,  por detrás da cozinheira aparece o cozinheiro, de barrete alto, mas já um bocado a cair para o lado, de casaco e calça, muito mais sujo de "bedun" do que a bata da sua companheira e era vesgo do olho esquerdo. Oiço rir, olho para trás e vejo o meu sócio com os cabelos em pé, erguidos pela forte ventania que apanhamos na rua, olhando para mim, o cozinheiro e a cozinheira e eu próprio no mesmo estado com o cabelo esfarrapado e despontado de muitos brancos, em pé, os vesgos, as batas, toda aquele ambiente  surreal  que só os filmes dos "três estarolas" apresentavam.

Foi impossível aguentar as gargalhadas, a porta do restaurante fechou-se, apagaram-nos as luzes das escadas e descemos estas pelo mesmo processo da subida, sem ter provado a comida macrobiótica.
Durante uns dias, bastava olharmos um para o outro para as gargalhadas soltarem imediatamente. Pelo menos até aparecer outra aventura em sua substituição.
E não é, que até hoje, ainda não frequentei um restaurante daquela especialidade.

14 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Vá lá deu-lhes para o cómico. Eu acho que ficava com pesadelos cada vez que voltasse a ouvir falar em macrobiótica, que por sinal nunca experimentei.
Um abraço e uma ótima semana

Pascoalita disse...

ahahahah Cá pra mim, foi castigo por não teres sido fiel ao compromisso com a "Laura Loira" eheheh

Onde já se viu, trocar a companhia de uma esbelta colega de trabalho por um tipo esguedelhado???

Vida recheada de aventuras a tua, nino eheheh consigo perfeitamente imaginar a cena, até porque conheço uma história em que que um indígena, induzido por um grupo de colegas malvados, subiu a um 5º andar, não para papar comida macrobiótica, mas um "manjar dos deuses" e foi corrido à vassourada!!! Apesar de tudo, vocês tiveram melhor sorte ahahah


Bem revindo, AMIGÃO :)*

jinhos

Pascoalita disse...

Ah! Esqueci de dizer que durante anos estive tentada a experimentar comida macrobiótica, num restaurante que havia no Jardim Cesário Verde, em Lisboa, mas nunca calhou.

Mas nunca é tarde! Um dia destes convido-te para um repasto dessa natureza, mas só depois de averiguarmos se não há cozinheiros vesgos, coxos, manetas ou pernetas eheheh

Zé do Cão disse...

Elvira
ahahah
Numa situação daquelas nem era capaz de ter outra atitude.

O rir faz parte da minha existência, e até há quem diga que faz bem à saúde.

Tenho um amigo que anda de instituição em instituição onde existem doentes, a aplicar a terapia do riso.

o meu abraço

Zé do Cão disse...

Pascoalita

Também acho que a companhia da Laura era muito melhor e a comida até corria estreito abaixo sem obstáculos.
Não me digas que o tal senhor que ia a um 5º andar duma rua que se chama Cardel Mardel, era careca e arranjava máquinas de calcular e escrever, e que as comprava na Regisconta. E que foi de elevador prédio acima e veio pelas escadas prédio abaixo.
Biquinhos

Zé do Cão disse...

Pascoalita


Olha gostava de experimentar, mas acompanhado com um branco de talha de barro.
Vinho Branco dos Deuses de Amareleja.

Para quando? Ontem era tarde.

Biquinhos

Pascoalita disse...

logo, logo ... vai pesquisando onde há esse Menu que mim num saber e pelo sim, pedlo não, talvez seja melhor levar um farnel, não vá a experiência correr mal ahahah


jinhos

São disse...

Que o sentido de humor ajuda, ajuda....

Macrobiótica é boa desde que bem confeccionada e não se tenha que comer todos os dias.

Abraço bem grande, meu querido amigo.

Zé do Cão disse...

Pascoalita

Prometo que qualquer dia almoço contigo .



biquinhos

Zé do Cão disse...

São

às vezes é o melhor remédio. Outras nem tanto.
Mas vamos fazendo por isso...
o meu abraço

Magia da Inês disse...

✿彡✿⊱╮¸.•°
O que não dá para animar é a cor dos aventais dos cozinheiros...
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil
✿彡

Zé do Cão disse...

Magia

Bem-vinda ao restaurante macrobiótica.

o meu abraço

rosa-branca disse...

Olá amigo, até eu tive que me rir desta história tão hilariante. Agora nunca é tarde para experimentar a comida e pode ser que o dia esteja calmo, mas que voltem a sair de cabelo em pé. É que para mim essa comida não vale um corno, como se diz no meu Ribatejo. Beijos com carinho

Zé do Cão disse...

Minha Amiga
Eu penso o mesmo, mas o certo é que gostava de experimentar.
talvez um dia me decida e depois venho aqui contar a desgraça em que me meti.


Com amizade