20.1.09

TURISTAS BRASILEIRAS

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Seis horas da tarde do dia dezoito de Setembro deste ano, o Zé tinha acabado de apanhar o metro na estação de Sete Rios com destino aos Restauradores. Eis que na estação imediata entram duas mulheres, uma aparentando cinquenta anos, a outra talvez já a passar os setenta. A primeira ostenta na mão um papelito onde está anotada qualquer coisa. Olham, preocupadas, o mapa sobre a porta e perguntam onde está a estação dos Restauradores. Alguém lhes indica. Ficam tranquilas.
Saímos ao mesmo tempo e achei que estavam aflitas, sem saber para onde se virar. Perguntei-lhes para onde iam e resolvi ajudá-las.
Queriam o Rossio, pois sabiam que num quiosque se vendiam bilhetes para uma volta turística pela cidade, num “bondinho”.
O seu receio era enorme pela minha presença. As suas malas penduradas ao ombro e apertadas bem contra o peito eram o sinal desse receio.
Perguntaram-me com subtileza porque as ajudava. Respondi-lhes que sabia muito bem o que era estar numa cidade que não conhecemos e as dificuldades que encontramos. Eu mesmo, que já corri meio mundo, senti sérias dificuldades em alguns países e sempre gostei de ser ajudado.
Disse-lhe que elas estavam num País que conheciam a língua e que portanto tinham essa vantagem, ao contrário de mim que, estando por exemplo na Turquia sem perceber “népia de turco”, era muito mais complicado. No entanto, perguntaram-me de onde era, que religião tinha e o que pretendia comprar. Respondi a tudo e fiquei orgulhoso de mesmo sem ajuda me ter desenrascado. A mímica e o indicador da mão direita é língua universal (se me entenderam não faço ideia, agora que comprei o que pretendia isso é verdade). Apontei o objecto que tinha o preço marcado, paguei e alcei os cucos que se fazia tarde.
Tinham acabado de chegar e resolveram dar uma passagem ligeira por Lisboa, tendo, nos dias imediatos, visitas já previamente marcadas, A Sintra, Jerónimos, Torre e Centro Cultural de Belém, ao Museu dos Coches e aos Pastéis de Nata.
Para uma ida aos fados aconselharam-se comigo. Indiquei-lhes a casa de que mais gosto e julgo que não as defraudei.
Já mais tranquilas, perguntaram-me como estava a criminalidade em Lisboa, pois estavam receosas dalgum encontro com gente de mau carácter. Lamentei dizer-lhes que os seus conterrâneos vindos das favelas do Rio estavam fazendo estragos.
Conversa aqui, conversa ali, soube o seu hotel na cidade e perguntei-lhes se gostariam da minha companhia para lhes servir de guia, já que a minha disponibilidade era total, visto a minha “Dona” se encontrar num congresso em Coimbra.
Agradeceram e, no dia imediato, o Zé estava pelas 9 horas da manhã à porta do hotel para as levar Fátima (onde rezaram à virgem), Alcobaça, Nazaré. S. Martinho do Porto, Caldas da Rainha (onde riram e compraram pequenas recordações de loiça, algumas com alfinete) e Óbidos, onde jantamos na Pousada.
Quando as levei ao hotel, quiseram fazer contas comigo para pagar toda a despesa. Respondi-lhes que tinha feito tudo com o maior gosto do mundo e a única intenção que tivera foi conseguir dar-lhes um dia feliz para que levassem uma boa recordação de Portugal.
Se fosse noutros tempos, metia-as num foguetão e leva-as à lua.
Ai levava, levava. E ainda era capaz de me apaixonar por alguma… Lá tinha que ir ver o Corcovado e meter-me nalguma desventura!
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