Numa rua de Betanzos, em que porta sim, porta sim é um bar,
escolhi este com nome muito original, anunciando as pomadas das curas milagrosas Nas minhas andanças por terras galegas encontrei BETANZOS, pequena cidade a escassos kms de A Coruña, na estrada que liga esta, a Lugo.
Fiz uma visita em pormenor e não dei o tempo por perdido, já que, Betanzos foi em tempos idos capital de província, os seus naturais eram conhecidos por “Garelos”, em 1463 Enrique IV de Espanha concedeu à povoação o título de Cidade e em 1465 permitiu a celebração de uma feira franca anual.
Anos mais tarde os Reis Católicos designam aquela, Capital de Província, na época de maior esplendor da Cidade.
Depois, uma série de incêndios e falta de colheitas iniciou-se a decadência que se veria a agravar, e em 1834 com a nova divisão administrativa a província de Betanzos deu lugar à província de A Coruña.
Revitalizada com a chegada do comboio no princípio do século XX, na actualidade continua sendo um importante núcleo turístico, comercial e administrativo. Desde 1970 o seu “casco antigo” está declarado Conjunto Histórico-Artístico.
O seu “Parque do Passa Tempo”, que esteve em abandono, está completamente recuperado e é uma das sete maravilhas de toda a Galiza.
A sua ria na passagem pela Cidade é estreita, mas faz parte do golfo Ártabro e banha vários municípios entre eles o de Sado e Pontedeume, ambos com historial e a não perder quando por perto lá passarmos.
É aqui pois, que se realizam com grande pompa e circunstância festas milenárias, e a uma delas a “festa de Os Caneiros” tive o grato prazer de conhecer “ao vivo”, e a que o povo chama “Festa dos Bêbados”.
Betanzos é terra de finos caldos (vinhos), de pão enorme com uma “piroleta” em cima e cujo sabor é belíssimo, bem como o “pulpo” de paladar impar e macio como seda.
Quase todos os naturais, têm um pequeno barco, com toldo, uma mesa e bancos corridos, para se deslocarem ria acima, aos prados junto das margens, a fim de fazerem pic-nic.
No verão, em 18 de Agosto realiza-se a primeira jornada da maior romaria pagã de toda a Galiza, “Os Caneiros”, realizando-se a segunda gira a 25 do mesmo mês.
O Município dá um prémio aos proprietários dos barcos melhor engalanados com gosto mesurado e acompanhados de banda de música, sobem o rio Mandeo, aproveitando a maré alta, entre árvores e arbustos que crescem livremente sobre as margens e chegam mesmo a dificultar a sua passagem, abarrotados de povo, com petiscos e toneladas de “caldos”, passam horas agradáveis em confraternização franca e saudável, ao som da Banda, Gaiteiros e Charangas, nas margens lindíssimas do referido rio. Tradicionalmente, as comidas são os restos dos festejos de S. Roque e os milhares de romeiros preparam o corpo para a larga tarde que os espera. Recomenda-se que não vá a esta festa com as suas melhoras galas, pois com os efeitos que os “caldos” fazem, um dos entretinimentos dos folgazões é romper a camisa de quem estiver por perto. Se gosta de adrenalina, divirta-se e “Venga aos Caneiros”, aqui, nenhum forasteiro se sente estrangeiro. Com o anoitecer os romeiros regressam à sua lancha, para voltar a Betanzos, vindo ao sabor da vazante, esperando-os no cais da Ponte Velha, fogos artificiais aquáticos para pôr fim a uma noite mágica, em que o chegar a casa todo esfarrapado é gratificante e orgulhosos por terem contribuído para o brilhantismo das suas festas.
De todas as formas, se não gosta ou não confia nas habilidades aquáticas debaixo dos efeitos do álcool, sempre pode ir aos festejos caminhando uns quilómetros por caminhos sem asfalto e de rara beleza. Também existe uma espécie de barcaça-autobus no cais da Ponte Velha.
Além desta festa, Betanzos celebra entre outras no 2º fim-de-semana do mês de Maio, uma homenagem aos “caldos”. Pelo menos, as gentes desta terra, publicita os seus produtos, e tem larga experiência de saber apreciar a qualidade de uma boa pinga e não é por causa deles com certeza que o negócio dos vinhos em Espanha está em queda livre.
Sou amante das festas tipicamente populares e tem sido inúmeras as vezes que a “Dona” me chama a atenção por ficar como que extasiado, quando oiço os toques de um grupo de gaiteiros, admirando as suas bochechas vermelhas de tanto soprar para dentro do odre, de onde depois sai a caminha da gaita, transmitindo aos quatro ventos aquele som maravilhoso, como que unindo meigas e bruxas, gentes daquelas terras, trabalhadores do mar e do campo, na sua essência mais alegre e popular, dum povo que ama a sua região e se ajuda mutuamente na solidificação das suas raízes.