Alentejo no seu esplendor. Searas de trigo por todo o lado, era o celeiro de Portugal. Hoje, os agrários preferem alugar as propriedades para couto de caça e tiram, segundo parece, sem nenhum trabalho resultados mais vantajosos.
Do Norte, a ligação ao Algarve estava assegurada por três estradas, uma direitinha a Castro Marim, outra passando por S. Brás de Alportel e a última terminando em Lagos.
Todas elas estão ainda em estado razoável, mas acompanhadas pela Auto-estrada e a que, passando por Ourique, termina na via do Infante, ou Albufeira.
O Zé circulava nas primeiras muitíssimas vezes e durante o inverno. Certa vez, quando a noite já tinha chegado, e ela aparecia por volta das dezoito horas, vindo de Vila Real de Santo António, passava por Ferreira do Alentejo e eram horas de jantar. As minhas companhias eram, nessa altura, adeptas de um clube de futebol que tinha jogado nesse Domingo à tarde no campo do Vila Real.
Perguntámos onde se poderia mastigar e indicaram-nos o restaurante–tasca “Pé de Bico”.
Não me perguntem porque tinha aquele nome, pois ainda hoje não sei, tal como não sei se ainda existe.
Entrámos, sentámo-nos e um rapazito, fazendo o papel de empregado de mesa, aproximou-se para sabermos o que queríamos.
A lista com a indicação do menu não era coisa daqueles tempos, portanto o mocito anunciou que o prato da casa era canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada.
Estão já a imaginar, quatro galfarros, cheios de “galga” para encher o estômago, mas finos no paladar.
Fomos unânimes em mandar vir a canja e a galinha e que os carapaus fritos fossem feitos de escabeche para o dia em que lá não passássemos.
O rapaz foi à cozinha e volta com a cara um pouco constrangida, esclarecendo que a comida era canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada. Retorquimos que tínhamos percebido perfeitamente e que não queríamos os carapaus.
Lá volta o rapaz à cozinha e então sai de lá um alentejano, que pelos vistos seria o dono do “Pé de Bico”, com a sua voz de sotaque bem acentuado, dirigiu-se à nossa mesa e anunciou mais ou menos nestes termos:
- Meus amigos, a comidinha é canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada.
- Meu caro senhor, já tínhamos percebido à primeira vez. Abdicamos dos carapaus, traga o restante e meta na conta também os carapaus, mesmo sem os termos comido.
O homem respira fundo e diz que a galinha é pouca e daí a necessidade dos carapaus, para fazer “papo”.
Pois bem, dissemos nós, traga tudo menos os carapaus e depois logo se vê.
Pois fiquem já a saber: ou comem os carapaus ou então não comem nada, disse já com a voz a indicar aproximação de trovoada.
Levantámo-nos, viemos embora e, ao passar pela ombreira da porta, dissemos bem alto:
- Guloso, querias era encher a nossa barriga de carapaus e a galinha comia-la tu.
- Pois venham cá, que tenho aqui uma moca e já ficam a saber quem comia a galinha, porque vocês ficam é com alguns galos a cantar na cabeça…
Safamo-nos de boa. Só em casa matámos a fome…
Do Norte, a ligação ao Algarve estava assegurada por três estradas, uma direitinha a Castro Marim, outra passando por S. Brás de Alportel e a última terminando em Lagos.
Todas elas estão ainda em estado razoável, mas acompanhadas pela Auto-estrada e a que, passando por Ourique, termina na via do Infante, ou Albufeira.
O Zé circulava nas primeiras muitíssimas vezes e durante o inverno. Certa vez, quando a noite já tinha chegado, e ela aparecia por volta das dezoito horas, vindo de Vila Real de Santo António, passava por Ferreira do Alentejo e eram horas de jantar. As minhas companhias eram, nessa altura, adeptas de um clube de futebol que tinha jogado nesse Domingo à tarde no campo do Vila Real.
Perguntámos onde se poderia mastigar e indicaram-nos o restaurante–tasca “Pé de Bico”.
Não me perguntem porque tinha aquele nome, pois ainda hoje não sei, tal como não sei se ainda existe.
Entrámos, sentámo-nos e um rapazito, fazendo o papel de empregado de mesa, aproximou-se para sabermos o que queríamos.
A lista com a indicação do menu não era coisa daqueles tempos, portanto o mocito anunciou que o prato da casa era canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada.
Estão já a imaginar, quatro galfarros, cheios de “galga” para encher o estômago, mas finos no paladar.
Fomos unânimes em mandar vir a canja e a galinha e que os carapaus fritos fossem feitos de escabeche para o dia em que lá não passássemos.
O rapaz foi à cozinha e volta com a cara um pouco constrangida, esclarecendo que a comida era canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada. Retorquimos que tínhamos percebido perfeitamente e que não queríamos os carapaus.
Lá volta o rapaz à cozinha e então sai de lá um alentejano, que pelos vistos seria o dono do “Pé de Bico”, com a sua voz de sotaque bem acentuado, dirigiu-se à nossa mesa e anunciou mais ou menos nestes termos:
- Meus amigos, a comidinha é canja de galinha, carapaus fritos e galinha corada.
- Meu caro senhor, já tínhamos percebido à primeira vez. Abdicamos dos carapaus, traga o restante e meta na conta também os carapaus, mesmo sem os termos comido.
O homem respira fundo e diz que a galinha é pouca e daí a necessidade dos carapaus, para fazer “papo”.
Pois bem, dissemos nós, traga tudo menos os carapaus e depois logo se vê.
Pois fiquem já a saber: ou comem os carapaus ou então não comem nada, disse já com a voz a indicar aproximação de trovoada.
Levantámo-nos, viemos embora e, ao passar pela ombreira da porta, dissemos bem alto:
- Guloso, querias era encher a nossa barriga de carapaus e a galinha comia-la tu.
- Pois venham cá, que tenho aqui uma moca e já ficam a saber quem comia a galinha, porque vocês ficam é com alguns galos a cantar na cabeça…
Safamo-nos de boa. Só em casa matámos a fome…
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