19.9.10

Empregada Domestica


Nas dez horas seguidas que fiz de automóvel neste período de férias, falei com a minha "Dona"de tudo e ainda mais alguma coisa. É uma táctica que usamos para não nos dar sono e garanto-vos que resulta em pleno. A comida limita-se a dois frascos de yogurte liquido comprado no "Lidle", acompanhados de duas/três bananas e as paragens limitam-se ao abastecimento de carburante, aproveitando a ocasião para um "xixi".
Relembramos tempos passados, rimos sobre cenas de muita graça que nos aconteceram e de repente veio-nos à "mona" esta, passada numa das cidades do Norte onde vivemos vinte anos.
Em dada altura admitimos uma empregada domestica, mulher talvez de trinta/trinta e cinco anos.
Era educada, fazia o seu trabalhito com algumas falhas, mas nada que não pudesse ser
ultrapassado. Os nossos rapazes, de idade muito aproximada e ainda na escola primária (colégio de freiras, gozavam com ela, já que a "pobre" tinha os dentes da frente, como o coelho Perna Longa dos desenhos animados de Walt Disney.
E foram eles os primeiros a alertarem-nos (as crianças são observadores natos) de que a senhora « não batia bem a bola, quando pretendia encestar».
Certo dia, o mais novo, em pleno inverno e dia de chuva, estreou uma camisola de lã
de belíssima qualidade que levou para a escola para se proteger do frio gélido daquele mês de Janeiro de mil novecentos e noventa.
No recreio, depois de umas correrias com outros da sua idade, ficou afogueado, sentiu calores, despediu a camisola, e...quando acabaram as aulas regressou a casa, vindo mais leve, já que, da camisola nem rasto.
A mãe ralhou, foi à escola à procura do abafo e...nada, tinha-se evaporado.
Largos dias depois o rapaz aparece com a camisola encharcada, cheia de lama, pois tinha estado todo esse tempo no chão à chuva no espaço do recreio e ninguém tinha reparado nela.
Como a "Dona" não estava em casa e no sentido de salvar o meu "ninito" de algum
tabefe disparado ao acaso, pedi à Joana que lavasse o farrapo (?). Como sempre,
prestável,pega no esfregão ( assim parecia a camisola)e mete-o na LAVA LOIÇA, lavando-a na minha presença. Afinal salvou-se, estava em estado muito razoável e o rapaz levantou a crista e cantou vitoria.
Dias depois, na lavandaria da casa, vou dar com o tanque de lavar a roupa, cheio de loiça, de molho como o bacalhau, para ser lavada.
Parti-me a rir e mostrei aos gozões. Fizeram uma festa...e ainda hoje, quando se lembram, riem daquela troca.
Mas...um dia a casa de banho de serviço à cozinha, cheirava mal, cheiro a demonstrar que alguém a tinha usado momentos antes. Tudo estava aparentemente bem,mas as horas passavam e o cheiro não saia. Ia a "Dona", disparava o autoclismo, parecia que finalmente o cheiro estava dissipado, entrava eu e ele lá estava a incomodar. Mais uma cisterna de água. Iam os rapazes e a cegada repetia-se. Dois dias depois, já em desespero, encho dois baldes enormes, disparo o autoclismo e simultâneo vazei-os de seguida. Se houvesse algo que estivesse a obstruir a sanita, seria removido de certeza. Rejubilei de satisfação, o problema tinha desaparecido. Nada disso, o cheiro poucos minutos depois volta a aparecer.Quando já estava e entrar em desespero e preparado para fazer uma chamada ao programa radiofónico " A Parada da Paródia" afim de requisitar os detectives "Patilhas e Ventoinha" para tentar descobrir o mistério da casa de banho fedorenta, a "Dona" descobriu-o.
A empregada, tinha-se servido da casa de banho. Como a encomenda despachada não foi cano abaixo com a primeira investida da água, pegou no piaçaba e deu tamanha "foirada" na cabeça do "animal", impregnou os "cepilhos" e depois impávida e serena depositou no recipiente o referido apetrecho.
A peça foi deitada fora e a normalidade voltou aquele lar...até ao dia em que a substituta da Joana, nos fez carne assada, usando vinagre em vez de vinho branco.

6.9.10

A GRAVATA


Era lindo a apêndice pendurado no pescoço do A. Jorge. Um vermelho extremamente suave e com desenhos de encantar. Que chique e que bem vestido se encontrava o A. Jorge.
Mas afinal quem é o A. Jorge, perguntarão os meus amigos. A. Jorge era meu sócio, natural de Vila Franca de Xira, gostava de toiros e touradas, e orgulhoso achava que Vila Franca era a Sevilha portuguesa. Trabalhávamos no mesmo gabinete e cada um de nós dirigia um sector diferente para não haver atropelos.
Entre os naturais de Santarém e Vila Franca existe rivalidade. Às escondidas uma comissão de que fazia parte o A. Jorge resolveu erigir um monumento ao Campino, contrataram escultor e mais tarde com o intuito de prestar a homenagem merecida aos homens do Ribatejo resolveram convidar o Senhor Presidente de Republica, General Ramalho Eanes.
Sua Excelência marca audiência para as 15 horas daquele dia e era a razão do homem vestir fato e gravata nova, visto ter sido o indigitado para proceder àquele acto.
O A. Jorge tinha uma barriguinha a puxar para o grandinho, coisa que ninguém ligava, dado saberem que era um "bom garfo". Almoçávamos os dois todos os dias e o nosso restaurante situava-se em Alcântara mesmo junto à entrada da Ponte sobre o Tejo.
Ambos adorávamos Garoupa com batatas e hortaliça, regada com bom azeite, e a sua preferência era pela cabeça. Naquele o dia, foi um festim. O homem não resistiu, comeu bem, bebeu melhor e...desgraça, na gravata caíram-lhe dois pingos enormes de azeite. Que azar!.. e agora o que faço, desabafa o A. Jorge preocupado. Tranquilizei-o. Não te preocupes, tenho lá no escritório um produto milagroso, que te limpará a gravata num instante...
O repasto continuou e as glândulas gustativas colaboraram na nossa felicidade.
Quando chegamos ao escritório, fui buscar a bisnaga com o tal produto para limpar as nódoas (pelo menos era o que lá dizia). Besuntei bem a gravata seguindo as instruções e em seguida mandei-o lavar com água corrente. Que feliz estava o A. Jorge. Essa felicidade foi de pouco duração, a gravata estava irremediavelmente perdida para todo o sempre. A tinta tinha desaparecido como por encanto e o pano nem era de boa qualidade para dar lustro aos sapatos. E o que não tinha passado de uns ditos brejeiros, passaram a ser uns palavrões em desespero pela falta de apresentação à audiência com o General.
Perdido de riso, alvitrei que estávamos em época de luta pela democracia e portanto que fosse de "gargalo aberto" e fizesse o papel de um democrata oportunista.
Lá fez o seu papel, cumpriu a sua missão, O Senhor Presidente inaugurou o monumento, mas ele nunca mais se esqueceu da bisnaga milagrosa que eu tinha para tirar nódoas.