Imagem rigorosamente igual, incluindo a raça, quando pôs na boca a dentadura da sogra do Zé
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Era um dia de calor insuportável. A sede do concelho da terra alentejana estava ao rubro; aquele mês de Agosto tinha rebentado todas as escalas dos termómetros.
Sentado na cadeira de verga, a fazer parte da mobília que tinha encomendado e vindo expressamente da ilha do Atlântico, naquela sala da casa de madeira, oferta do Governo da Suécia, após o vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, para fazer face à avalanche dos refugiados de Angola e Moçambique, eu olhava a televisão (note-se que não fui retornado e nem sequer alguma vez visitei as chamadas colónias ou províncias ultramarinas, algumas daquelas casas serviram para alojar outros que se encontravam a trabalhar nas terras alentejanas e não havia habitação para lhes oferecer).
A ventoinha trabalhava a toda a velocidade e o meu pensamento vagueava, como se circulasse num automóvel descapotável com o vento rude e grosseiro a bater-me na cara, tornando a minha pele mais morena e acentuando-me as rugas.
O Setter, cão irlandês que tinha adquirido por cinco mil escudos a um estudante de veterinária na Faculdade de Lisboa, veio deitar-se em cima dos meus pés.
Este acto contribuiu para eu vir à realidade e dou com o animal a mirar-me, olhos nos olhos, como se estivesse a implorar qualquer coisa. Mudei de posição, retirando os pés de baixo do seu corpo. Levantou-se, fitou-me e tornou a deitar-se do mesmo jeito, com os olhos postos nos meus.
Então percebi o que se passava e compreendi aquela voz silenciosa do meu canito.
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O cachorrinho foi tratado com todo o desvelo, acariciado, mimado e aprendia com uma facilidade invulgar os ensinamentos que lhe dávamos.
Fazíamos campismo e tínhamos uma caravana no Parque da Urbitur, no Guincho, dormindo numa barraquita improvisada que lhe arranjámos e bastou um sinal para entender imediatamente que ali era o seu local de pernoita.
Durante a semana, havendo poucos campistas, saltava e corria livremente por entre as tendas, em velocidade louca. Por vezes, nessas correrias, deitava uma espia abaixo e lá tinha que ir pôr tudo em ordem. No entanto, podia continuar a passar mil vezes por esse sítio que nunca mais tropeçava nela.
Aquela “criança” brincalhona, em casa de minha sogra, tendo-a apanhada distraída por ter colocado a dentadura na beira da banheira, meteu-a na boca e brincou, correndo e desviando-se, antes que à força lha tirassem.
A minha mulher, funcionária pública, ia ser transferida, a seu pedido, para uma unidade hospitalar perto de Lisboa, para não estarmos separados toda a semana, dado que o meu trabalho também se situava na zona.
Sentíamos que o nosso “menino” gostava tanto de mim como dela, pois quando os visitava à quinta-feira a sua alegria era demonstrado das mais variadas maneiras.
Mas aquela deslocação de lugar de residência obrigava-nos a pensar no que fazer com animal, se deixávamos de ter condições para o manter. Era um problema que teria de ser resolvido com brevidade.
A minha mulher tinha, no Hospital de Portalegre, um colega que era caçador e que se interessou pelo “Fiore”.
Uma noite, conversámos sobre o assunto demoradamente e alvitrei que ela fosse ver o alojamento que o colega tinha para oferecer ao nosso príncipe.
No outro dia veio com a notícia de que, amanhã vou a “Galoucha”, povoação sita mais ou menos a 7 km da capital do Alto Alentejo, para ver as instalações e o seu colega estava entusiasmado com a oferta.
.
Implorava-me aquele olhar, demonstrando o desejo de não querer sair da nossa companhia.
Afaguei-o, não o demos e foi para Queijas, onde ficou até ser roubado.
Sentimos tanto desgosto como se de um familiar muito chegado se tratasse.
Sentado na cadeira de verga, a fazer parte da mobília que tinha encomendado e vindo expressamente da ilha do Atlântico, naquela sala da casa de madeira, oferta do Governo da Suécia, após o vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, para fazer face à avalanche dos refugiados de Angola e Moçambique, eu olhava a televisão (note-se que não fui retornado e nem sequer alguma vez visitei as chamadas colónias ou províncias ultramarinas, algumas daquelas casas serviram para alojar outros que se encontravam a trabalhar nas terras alentejanas e não havia habitação para lhes oferecer).
A ventoinha trabalhava a toda a velocidade e o meu pensamento vagueava, como se circulasse num automóvel descapotável com o vento rude e grosseiro a bater-me na cara, tornando a minha pele mais morena e acentuando-me as rugas.
O Setter, cão irlandês que tinha adquirido por cinco mil escudos a um estudante de veterinária na Faculdade de Lisboa, veio deitar-se em cima dos meus pés.
Este acto contribuiu para eu vir à realidade e dou com o animal a mirar-me, olhos nos olhos, como se estivesse a implorar qualquer coisa. Mudei de posição, retirando os pés de baixo do seu corpo. Levantou-se, fitou-me e tornou a deitar-se do mesmo jeito, com os olhos postos nos meus.
Então percebi o que se passava e compreendi aquela voz silenciosa do meu canito.
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O cachorrinho foi tratado com todo o desvelo, acariciado, mimado e aprendia com uma facilidade invulgar os ensinamentos que lhe dávamos.
Fazíamos campismo e tínhamos uma caravana no Parque da Urbitur, no Guincho, dormindo numa barraquita improvisada que lhe arranjámos e bastou um sinal para entender imediatamente que ali era o seu local de pernoita.
Durante a semana, havendo poucos campistas, saltava e corria livremente por entre as tendas, em velocidade louca. Por vezes, nessas correrias, deitava uma espia abaixo e lá tinha que ir pôr tudo em ordem. No entanto, podia continuar a passar mil vezes por esse sítio que nunca mais tropeçava nela.
Aquela “criança” brincalhona, em casa de minha sogra, tendo-a apanhada distraída por ter colocado a dentadura na beira da banheira, meteu-a na boca e brincou, correndo e desviando-se, antes que à força lha tirassem.
A minha mulher, funcionária pública, ia ser transferida, a seu pedido, para uma unidade hospitalar perto de Lisboa, para não estarmos separados toda a semana, dado que o meu trabalho também se situava na zona.
Sentíamos que o nosso “menino” gostava tanto de mim como dela, pois quando os visitava à quinta-feira a sua alegria era demonstrado das mais variadas maneiras.
Mas aquela deslocação de lugar de residência obrigava-nos a pensar no que fazer com animal, se deixávamos de ter condições para o manter. Era um problema que teria de ser resolvido com brevidade.
A minha mulher tinha, no Hospital de Portalegre, um colega que era caçador e que se interessou pelo “Fiore”.
Uma noite, conversámos sobre o assunto demoradamente e alvitrei que ela fosse ver o alojamento que o colega tinha para oferecer ao nosso príncipe.
No outro dia veio com a notícia de que, amanhã vou a “Galoucha”, povoação sita mais ou menos a 7 km da capital do Alto Alentejo, para ver as instalações e o seu colega estava entusiasmado com a oferta.
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Implorava-me aquele olhar, demonstrando o desejo de não querer sair da nossa companhia.
Afaguei-o, não o demos e foi para Queijas, onde ficou até ser roubado.
Sentimos tanto desgosto como se de um familiar muito chegado se tratasse.